27 de ago. de 2009

Os sonhos (Parte III)

De tudo o que falamos sobre o sonho e que até o momento foi APENAS teórico, vale destacar a função dele como mensagem: seja mensagem do incosciente, seja mensagem de origem sobrenatural.

Na umbanda muitas coisas são questionadas, a começar pelas formas rituais. Como não existe um "corpus" doutrinário, cada casa de umbanda é estruturada conforme as orientações da entidade fundadora, e, mantén características que tem sua origem muita das vezes na cultura e fundamentos trazidos pela entidade em seus aprendizados anteriores. Neste caso, podemos dizer que o "contato" é ancestral e traz ao presente coisas que foram esquecidas no tempo.

Muita gente começa a discutir esses fundamentos e acusam-se de falsários, ou de charlatões, mas se esquecem que somos fruto de uma cultura miscigenada e que é natural que certas casas (e suas entidades fundadoras) tendam mais para o indigena, outras mais para os africanistas e ainda aqueles que pregam um certo "orientalismo" que nem sempre possui origem kardecista.

O ato de "passar fundamentos" de entidade para médiun - tanto no âmbito da estruturação de uma casa, quanto no êmbito pessoal de desenvolvimento e aprendizado do médiun - é um meio de conservação da memória. Conservação de todas as práticas rituais que já existiram em diferentes momentos do tempo e que são trazidos para um presente por meio de sonhos, intuições, etc. Isso torna difícil o julgamento de "certo e errado" que muitos umbandistas se pretendem.

Basta observar: em um mesmo terreiro, temos entidades que se referem a Deus como Olorum, outras que se referem a Zambi (nomenclaturas diferentes, cuja origem na África pertence a regiões e cultos distintos). Do mesmo modo, temos caboclos que chamam seus consulentes de curumins, e outros que se referem apenas como "filho". Temos uma entidade que trabalhará com energias sutis e simples e outras que só sabem trabalhar com elementos materiais mais pesados. Entidades que fumam e outras não. Algumas só precisam de uma vela e um copo d'água, outras precisam de ervas e ainda há aquelas que precisam de sementes para suas firmezas. Uma entidade dirá para você rezar pra Santo Antônio, outra pedirá uma firmeza para exu. Mas no fundo os significados e sentidos se assemelham, ambas almejam a proteção do consulente.
Há ainda entidades que falarão íntimamente a seus médiuns de Orixás que já não são mais cultuados hoje, mas que elas cultuaram, e, neste caso, a linguagem será adaptada para o convívio social do terreiro. Porém, a memória desses Orixás não se perdem de todo, são conservadas na intimidade do médiun, que certamente aprenderá a usar a energia daquele orixá esquecido, mas sob um novo nome que será melhor aceito na comunidade.

A umbanda, na verdade, é o lugar da memória. Onde TODAS as memórias se mantém vivas. A beleza da umbanda reside justamente em um duplo aspecto: o aprendizado coletivo como demarcando um Lugar para a memória acontecer, e o pessoal onde cada uma das culturas, cada individualidade, sobrevive a ação do tempo e do espaço.

Os sonhos são, muitas vezes, o local ideal para a transmissão dessas mensagens, dessas individualidades de forma detalhada, já que a correria do dia-a-dia do mundo moderno faz com que naturalmente tenhamos pouco tempo a dedicar para o labor mediúnico. Sem contar que nos sonhos, nossos egos são parcialmente desligados, e com eles parte de nossos preconceitos. Tudo isso é previsto pela psicologia que nos diz que parte de nossa censura consciênte é eliminada nos sonhos. Com isso nossos guias, mentores, entidades e ancestres conseguem nos transmitir o necessário, sem que interfiramos ou critiquemos.

Me referi a um documentário, na postagem anterior, que é um exelente exemplo disto. Passo ele agora para o baú:

A'uwê - Moyngo - O Sonho de Maragareum











O Vídeo é um documentário onde algo muito comum a cultura indígena nos é passado, ainda mais em tempos onde a cultura "original" começa a se perder: Maragareun sonha com seus antepassados e estes mostram como certos rituais aconteciam e devem ser realizados. Ou seja, é por meio do sonho, do inconsciente, que a cultura indígena mantém a sua conservação. É por meio do sonho que a memória cultural se conserva.

BOM FILME!

26 de ago. de 2009

Os sonhos (Parte II)

Há na história humana vários relatos de mensagens transmitidas por sonhos. Mensagens vinda de um lugar misterioso, de seres misteriosos, de ancestrais e Deuses. Até mesmo no catolicismo a narrativa de pessoas que tiveram "revelações" pode meio de sonhos existem.

Jung ao estudar as religiosidades, destaca este aspecto histórico do sonho e confronta com a nossa realidade atual e cética, que descarta qualquer possibilidade de ver neles algum tipo de mensagem ou conhecimento:

Quando na epopéia babilônica Gilgamesh provoca os deu­ses com sua presunção e sua hybris, estes inventam e criam um homem tão forte como Gilgamesh, a fim de pôr termo às ambições do herói. O mesmo acontece com nosso paciente: é um pensador que pretendia ordenar continuamente o mundo com o poder de seu intelecto e entendimento. Tal ambição con­seguiu pelo menos forjar seu destino pessoal. Submeteu tudo à lei inexorável de seu entendimento, mas em alguma parte a natureza se furtou sorrateiramente, vingando-se dele, sob o dis­farce de um disparate absolutamente incompreensível: a idéia de um carcinoma. Este plano inteligente foi tramado pelo in­consciente, para travá-lo com cadeias cruéis e impiedosas. Foi o mais rude golpe desferido contra seus ideais racionais e principalmente contra sua fé no caráter onipotente da vontade humana. Tal obsessão só pode ocorrer num homem acostumado a abusar da razão e do intelecto para fins egoístas.

Gilgamesh, entretanto, escapou à vingança dos deuses. Teve sonhos que o preveniram contra esses perigos e ele os levou em consideração. Os sonhos lhe mostraram como vencer o ini­migo. Quanto ao nosso paciente, homem de uma época em que os deuses foram eliminados e até mesmo passaram a gozar de má reputação, também teve sonhos, mas não os escutou. Como um homem inteligente poderia ser tão supersticioso a ponto de levar os sonhos a sério? O preconceito, muito difundido, contra os sonhos é apenas um dos sintomas da subestima muito mais grave da alma humana em geral. Ao magnífico desenvolvimento científico e técnico de nossa época, correspondeu uma assus­tadora carência de sabedoria e de introspecção. É verdade que nossas doutrinas religiosas falam de uma alma imortal, mas são muito poucas as palavras amáveis que dirige à psique hu­mana real; esta iria diretamente para a perdição eterna se não houvesse uma intervenção especial da graça divina. Estes im­portantes fatores são responsáveis em grande medida — em­bora não de forma exclusiva —, pela subestima generalizada da psique humana. Muito mais antigo do que estes desenvolvi­mentos relativamente recentes são o medo e a aversão primi­tivos contra tudo o que confina com o inconsciente. (C.G. JUNG - Psicologia e Religião)


Os sonhos na verdade, desde muito tempo são fontes de informações, seja sobre nós mesmos, seja oriundas de "espíritos e Deuses". Segue ainda uma passagem do mesmo texto de Jung e que mostra como a influência da mentalidade ocidental afetou muitas culturas primitivas no que tange a consideração dos sonhos:

A vida do primitivo é acompanhada pela contínua preocupação da possibilidade de perigos psíquicos, e são numerosas as tentativas e procedimentos para reduzir tais riscos. Uma ex­pressão exterior deste fato é a criação de áreas de tabus. Os inumeráveis tabus são áreas psíquicas delimitadas que devem ser religiosamente observadas. Certa vez em que visitava uma tribo das vertentes meridionais do Monte Elgon, cometi um erro terrível. Durante a conversa, quis indagar acerca da casa dos espíritos que muitas vezes encontrara nas florestas, e men­cionei a palavra selelteni, que significa "espírito". Imediata­mente todos se calaram e eu me vi em apuros. Todos desviavam a vista de mim, que pronunciara, em voz alta, uma palavra cuidadosamente evitada, abrindo com isto o caminho para as mais perigosas conseqüências. Tive que mudar de assunto, a fim de poder continuar a conversa. Eles me garantiram que nunca tinham sonhos, privilégio do chefe da tribo e do curandeiro. Este último logo me confessou que não tinha mais sonhos, pois em seu lugar a tribo tinha agora o comissário do distrito. "Depois que os ingleses chegaram ao país, não temos mais sonhos — disse ele —; o comissário sabe tudo a respeito das guerras, das enfermidades, e onde devemos viver". Esta estranha afirmação se deve ao fato de que os sonhos anterior­mente constituíam a suprema instância política, sendo a voz de mungu (o numinoso, Deus). Por isso seria imprudente para um homem comum deixar surgir a suspeita de que tivesse sonhos.

Interessante notar acima que, nas culturas primitivas eram dos sonhos do curandeiro e do chefe que vinham a ordenação social e política daquela cultura. O sonho, neste caso, servia como meio de apreensão de normas e condutas passadas aos mais velhos por seus ancestrais. Um exemplo interessante disso encontramos em um documentário sobre uma tribo indígena brasileira, que colocarei aqui no Baú na próxima postagem.

A questão é, a humanidade de forma geral, em diversas e diferentes culturas, sempre consideraram os sonhos como fonte de conhecimentos e meios de receber mensagens do mundo misterioso que desconhecemos quando da vigília:

Os sonhos são a voz do desconhecido, que sempre está ameaçando com novas intrigas, perigos, sacrifícios, guerras e outras coisas molestas. (...) Há inúmeros ritos mágicos cuja única finalidade é a defesa contra as tendências imprevistas e perigosas do inconsciente. O estranho fato de que o sonho representa, por um lado, a voz e a mensagem divinas e, por outro, uma inesgotável fonte de tribulações, não perturba o espírito primitivo. Encontramos resquícios deste fato primitivo na psicologia dos profetas judeus. Muitas vezes eles hesitam em escutar a voz que lhes fala. E — é preciso admitir — não era fácil para um homem piedoso como Oséias casar-se com uma mulher pública, para obedecer a ordem do Senhor. Desde os albores da humanidade observa-se uma pronunciada propensão a limitar a irrefreável e arbitrária influência do "sobrenatural", mediante fórmulas e leis. E este processo continuou através da história, sob a forma de uma multiplicação de ritos, instituições e convicções. Nos dois últi­mos milênios a Igreja cristã desempenha uma função mediadora e protetora entre essas influências e o homem. Nos escritos da Idade Média não se nega que em certos casos possa haver uma influência divina nos sonhos, mas não se insiste sobre este ponto, e a Igreja se reserva o direito de decidir, em cada caso, se um sonho constitui ou não uma revelação genuína.

Num exce­lente tratado sobre os sonhos e suas funções diz Benedictus Pererius S. J.: "Com efeito, Deus não está ligado às leis do tempo e não precisa de ocasiões determinadas para agir, pois inspira seus sonhos em qualquer lugar, sempre que quiser e a quem quiser". A passagem seguinte lança uma luz interes­sante sobre as relações entre a Igreja e o problema dos sonhos: "Lemos com efeito, na vigésima segunda Colação de Cassiano, que os antigos mestres e guias espirituais dos monges eram versados na investigação e interpretação cuidadosas da origem de certos sonhos". Pererius classifica os sonhos da seguinte maneira: ... "muitos são naturais, vários são humanos e alguns podem ser divinos". Os sonhos têm quatro causas: 1) doença física; 2) afeto ou emoção violenta, produzidos pelo amor, pela esperança, pelo medo ou pelo ódio; 3) o poder e a astúcia do demônio, isto é, de um deus pagão ou do diabo cristão. (...) ; 4) sonhos enviados por Deus. Relativamente aos sinais que indicam origem divina de um sonho diz o autor “...sabemo-lo pelo valor das coisas manifestadas no sonho, ou seja: se, graças a esse sonho, a pessoa fica sabendo de coisas cujo conhecimento só poderia ser alcançado por uma concessão ou dom especial de Deus. Trata-se dos fatos que a Teologia das escolas chama de futuros e daqueles segredos do coração encerrados no mais recôndito da alma escapando por completo ao conhecimento humano e, finalmente, dos mistérios supremos de nossa fé, que não podem ser conhecidos senão por revelação do próprio Deus (!!)..." Por último, chega-se ao conhecimento de seu caráter (divino), principalmente por uma iluminação e uma comoção interior mediante a qual Deus aclara a mente do homem e toca a sua vontade de tal modo, que o convence da veracidade e autenticidade de seu próprio sonho; reconhece também Deus como seu autor, com uma certeza e evidência tão grandes que é obrigado a acreditar, sem a mínima sombra de dúvida".

Estas citações são úteis para mostrar que, longe do que parece, considerar os sonhos como meio de contato com realidades e conhecimentos de origem "sobrenatural" não é novo. Ao contrário, é quase tão antigo quanto a própria humanidade. A inovação Espírita está apenas no fato de tentar estudar sistematicamente os sonhos como elementos mediúnicos, ou seja, de contatos com espíritos.

Coisa curiosa de se notar na última citação, é que os sonhos quando possuem sua origem em um contato "divbino", vêm acompanhados com uma sensação de certeza íntima e absoluta despertada na mente. Não acho que essa característica seja apenas acidental, ou que seja apenas uma descrição "romântica" que vise marcar a distinção entre os sonhos comuns e Místicos. Acho que cada um de nós, ao termos certos sonhos, devemos investigar intimamente as sensações que ele trouxe e depois avaliar internamente a possibilidade de considerarmos "reais ou quiméricos".

Por mais racionais que sejamos, sempre há o que nos escapa a razão, o que apenas pode ser sentido e não falado, nem transmitido por palavras. Há certos sentimentos que acompanham tais sonhos e estes não devem ser ignorados, pois são eles que nos permitem decifrar intimamente o seu significado e a importância que tem em nossas vidas, que são apenas nossas e de mais ninguém. Pois ninguém pode viver a vida do outro, sentir o sentimento do outro e pensar pelas idéias do outro. Há uma espécie de "sentido privado" nestes sonhos que nenhuma teoria pode decifrar de forma adequada, mas apenas apontar...

Porém os sonhos não são Apenas um meio de contato nosso com espíritos. Lembremos que somos uma alma imortal e, segundo premissas estabelecidas pelas religiões espiritualistas, com várias e várias encarnações. Portanto, não somos apenas o nosso Ego atual, mas a soma de todos os egos que já tivemos e que constintui um sentido de "EU" muito superior àquele proferido na auto-referência cotidiana. A psicologia quando aponto os sonhos para o incosnciênte, não erra. Pois estes vários egos que já existiram, pertencem muitas das vezes a esta esfera psicológica a qual os sonhos tem acesso. Em certas ocasiões podem nos ocorrer sonhos que remetam a qualquer destes egos perdidos, ou até mesmo um contato com este EU maior, sem a interferência de nenhum ego.... Porém isso é tema para outra postagem.

Assim que eu conseguir melhor compreender essas relações eu as colocarei aqui no baú.



Quem quiser baixar o Livro Psicologia e Religião do Jung citado nesta postagem basta clicar AQUI.




Os sonhos (Parte I)

Os sonhos são muitas vezes ignorados pela maioria das pessoas. Também pudera, grande parte das pessoas absorveram a concepção freudiana de que os sonhos nos representam idéias e desejos presos no inconsciente.

Porém, ao se ingressar em uma religião como a umbanda, candomblé ou espiritismo, grande parte desses conceitos já culturalmente arraigados no nosso modo de vida devem ser revistos. Não importa se a pessoa é médiun dentro do terreiro ou se é apenas um indivíduo comum. Deverá rever este conceito de sonho que lega a eles um papel muitas vezes secundário em nossas vidas.

Os sonhos permitem a nós, segundo as doutrinas espiritualistas, um religar com o mundo que conscientemente desconhecemos, mundo que pertence a nossos guias, Orixás, encestrais, mundos internos, verdades internas que nada de ilusório são. Retratam, as vezes, verdades esquecidas no nosso consciente comum da vigília, mas que resistem e existem intependente de nossa vontade.

São nos sonhos que, grande parte das vezes, nos são passadas mensagens, aprendizados, a respeito de nós mesmos e da espiritualidade. Em parte a psicologia tem razão, mas devemos entender por incosnciênte, algo totalmente diferenciado dela. Inconsciênte pode remeter a consciência mais ampla que possuimos, mas que o ego faz apagar no dia a dia.

Sonhar, segundo Kardec, é "Emancipar a Alma" (ver: capítulo 8 da Parte II do Livro dos Espíritos). No entanto as formas pelas quais podemos podemos emancipar nossa alma excedem as descritas no texto de kardec: 1) podemos nos emancipar do ego e por meio dos sonhos ter contato com outras identidades nossas, de vidas anteriores ou mesmo uma identidade superior onde se revela o que somos independentemente do nosso ego; 2) podemos emancipar nossa alma do corpo e manter o ego, neste caso podemos viajar junto a outros espíritos emancipados, ver locais novos, ter novas aprendizagens. Acredite, este meio é muito utilizado por entidades e guias espirituais. As vias mencionadas não são as únicas, existem muitas outras maneiras. Os sonhos são até hoje tema de pesquisa tanto em neurociência quanto nas searas espíritas. E quando as duas se encontram, nossa! São tantos meandros técnicos e formas distintas de explicar o fenômeno dos sonhos que jamais poderíamos esgotá-lo em um único post.

As investigações sobre os sonhos adquirem novos nomes, também: Projeciologia, expanção da consciência, até mesmo a famosa "meditação" pode servir de portal para experiências e contatos oníricos.

Mas o que importa destacar aqui sobre os sonhos?

Importa destacar que, ao contrário do que julgam algumas teorias psicológicas nem todos os sonhos são fragmentados e desprovidos de sentidos. por vezes podemos ter sonhos com início, meio e fim. Tais sonhos, muitas das vezes, trazem informações preciosas sobre nós mesmos e/ou sobre nossas entidades. Categorias como vivacidade, além da coerência, podem ajudar a identificar os sonhos que possuem algum conteúdo interessante daqueles que são meras composições arbitrárias da memória. Quem já não despertou de um sonho com a sensação física deste sonho? Este é um traço de "vivacidade" que pode caracterizar uma projeção durante o sono, ou algum contato com orientadores espirituais.

A interpretação desses sonhos cabe a cada "autor". Ou seja, a pessoa que teve tal sonho e apenas a ela, pois muitas vezes eles tratam de experiências pessoais, ou aprendizados que dizem respeito apenas ao indivíduo que sonha.

Muitas vezes estes sonhos nos parecem sem sentido imediatamente, mas o tempo cuidará de trazer eventos que nos mostrem o sentido que tais sonhos possam ter.

Seguem algums artigos que podem ajudar a compreender a questão dos sonhos, segundo a doutrina espírita:





Porém, fiquemos atentos, pois, na realidade, nada do que hoje podemos estudar no espiritismo sobre os sonhos é novo na história humana!

A doutrina espírita apenas ajuda a compreender melhor este fenômeno já muito conhecido e estudado na história humana.

23 de ago. de 2009

Especulações Sobre "Xangô do Oriente" (extraído do antigo Blog)

Essa postagem pertence na realidade a um antigo Blog que foi perdido. Mas recuperei o texto e repasso aqui:


Já tinha um certo tempo que eu vinha encafifada com a história de "Xangô do Oriente".

Tentando entender os porquês de tal terminologia procurei pesquisar, investigar, a tal "Linha do Oriente". Deixo claro, desde já que não me refiro aos Ciganos e nem tampouco aos hindús, mas sim às entidades tradicionais na umbanda (caboclos e pretos-velhos) que acabam usando um "do oriente" no final de seus nomes. O uso do "do Oriente" me intriga ainda mais quando se relacionam aos Orixás. Este é o objetivo maior da minha busca, entender o porque disso.

A primeira parte da busca partiu de uma co
nstatação: geralmente estes guias aparecem em médius cujas coroas tem relação direta ou indireta com o Orixá Oxalá. Essa constatação ficou ainda mais patente quando descobri que um certo caboclo conhecido meu, e que eu sabia apenas que era de Yemanjá com Oxalá, me revelou ser um "caboclo do oriente".

A partir daí comecei a investigar qual relação Oxalá Mantém com o "oriente" a fim de saber se minha "hipótese empírica" tinha razão de ser.

Encontrei por acaso um artigo do Verger
Etnografia religiosa Iorubá e probidade científica que me deu uma LUZ sobre o assunto. O artigo é técnico e chatéééésimo, mas esclarece muito sobre: 1) diferenças entre mito da criação em diferentes tribos africanas; 2) imprecisões e confusões porparte de teóricos anteriores a Verger; 3) Até que ponto diferentes Orixás de diferentes tribos africanas podem ser relacionados (e essa é a parte mais interessante!)

Uma passagem do artigo, em especial, acabou lançando uma luz sobre a minha busca. Cito:

O casal divino dos Fon, do qual um único membro é citado por Bertho, deveria ser Lissa-Mawy, adaptação Fon do casal Orixalá-Yemowo, de Ife. Sabe-se, com efeito, que esse culto (Lissa-Mawy) foi levado da região de Tchetti, habitada pelas Ana ou Ifé, por Na Wangele, a mãe do Rei Tegbessu, e instalado no Bairro Djenna, em Abemé, nos princípior do séc. XVII. Sabemos que entre os Fon (Herskovitz, 1938, v.II:101) Lissa é o elemento masculino, que simboliza o oriente, o dia, o sol e que Mawu é o elemento feminino, que simboliza o ocidente, a noite, a lua. Trata-se de um sistema dualista, mas correspondente, como vimos, ao casal Orixalá-Yemowo (...)

Interessante notar que Lissa corresponde a Orixalá (Oxalá) e Mawy corresponde a Yemowo. Perceba também a relação dos elementos "Oriente", Dia (hora de Oxalá) e sol (símbolo de Oxalá).

Bom esse era o "respaldo teórico" que faltava para que eu pudesse tornar minha hipótese verdadeira. Oxalá tem mesmo relação estreita com o Oriente, que, afinal, é onde o sol nasce. E o sol é seu símbolo.

A partir disso pensei: Caboclos do orient
e, tem relações estritas com Oxalá (como o caboclo que conheço), então um "Xangô do Oriente" deve ser um Xangô que tem relação estreita com Oxalá. E foi assim que encontrei Airá. Airá não é cultuado na umbanda, apenas em alguns candomblés, ou como um orixá em especial, ou como uma qualidade de Xangô cruzada com Oxalá.
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Um pouco sobre Airá por Reginaldo Prandi e Arnaldo Vallado:

Airá

Em alguns terreiros de candomblé cultua-se um grupo de qualidades de Xangô que recebe o nome de Airá. Também se acredita que Airá seja um orixá diferente de Xangô e que participa de alguns de seus mitos. O mais comum é considerar-se Airá como um Xangô branco. Vejamos algumas das subdivisões de Airá.

Airá Intilé

É o filho rebelde de Obatalá. Airá Intilé foi um filho muito difícil, causando dissabores a Obatalá. Um dia, Obatalá juntou-se a Odudua e ambos decidiram pregar uma reprimenda em Intilé. Estava Intilé na casa de uma de suas amantes, quando os dois velhos passaram à porta e levaram seu cavalo branco. Airá Intilé percebeu o roubo e sabedor que dois velhos o haviam levado seu cavalo predileto, saiu no encalço. Na perseguição encontrou Obatalá e tentou enfrentá-lo. O velho não se fez de rogado, gritou com Intilé, exigindo que se prostrasse diante dele e pedisse sua benção. Pela primeira vez Airá Intilé havia se submetido a alguém. Airá tinha sempre ao pescoço colares de contas vermelhas. Foi então que Obatalá desfez os colares de Airá Intilé e alternou as contas encarnadas com as contas brancas de seus próprios colares. Obatalá entregou a Intilé seu novo colar, vermelho e branco. Daquele dia em diante, toda terra saberia que ele era seu filho. E para terminar o mito, Obatalá fez com que Airá Intilé o levasse de volta a seu palácio pelo rio, carregando-o em suas costas. Nesta qualidade, Airá Intilé dá a seu devoto um ar altivo e de sabedoria, prepotente, equilibrado, intelectual, severo, moralista, decidido.

Airá Ibonã

É considerado o pai do fogo, tanto que na maioria dos terreiros, no mês de junho de cada ano, acontece a fogueira de Airá, rito em que Ibonã dança acompanhado de Iansã, pisando as brasas incandescentes. Conta o mito que Ibonã foi criado por Dadá, que o mimava em tudo o que podia. Não havia um só desejo de Ibonã que Dadá não realizasse. Um dia Dadá surpreendeu Ibonã brincando com as brasas do fogão, que não lhe causavam nenhum dano. Desde então, em todas as festas do povoado, lá estava Airá Ibonã, sempre acompanhado de Iansã, dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das fogueiras.

Nessa qualidade, os seguidores de Airá têm espírito jovem, perigoso, violento, intolerante, mas são brincalhões, alegres, gostam de dançar e cantar.

Airá Osi

É o eterno companheiro de Oxaguiã. Um dia, passando Oxaguiã pelas terras onde vivia Airá Osi, despertou no jovem grande entusiasmo por seu porte de guerreiro e vencedor de batalhas. Sem que Oxaguiã se desse conta, Airá trocou suas vestes vermelhas pelas brancas dos guerreiros de Oxaguiã, misturando-se aos soldados do rei de Ejibô. No caminho encontraram inimigos ao que Osi, medroso que era, escondeu-se atrás de uma grande pedra. Oxaguiã observava a disputa do alto de um monte, esperando o momento certo de entrar nela, mas, para sua surpresa, percebeu que um de seus soldados estava de cócoras, escondido atrás da pedra. Sorrateiramente Oxaguiã interpelou seu soldado e para sua surpresa deparou-se com Airá que chorava de medo, implorando seu perdão, por haver enganado o grande guerreiro branco. Oxaguiã, por sua bondade e sabedoria, compadeceu-se de Airá Osi. No entanto, como punição pela mentira de Airá, decidiu que naquele mesmo dia o jovem voltaria à sua terra natal vestindo-se de branco e nunca mais usaria o escarlate, devendo dedicar-se a arte da guerra para poder seguir com ele em suas eternas batalhas.

Os filhos de Airá Osi são considerados jovens guerreiros, lutam pelo que querem, mas as vezes deixam-se enganar pela impetuosidade. São calmos, não tidos a trabalhos intelectuais, são amorosos, alegres e sentimentais.

São muitas as invocações ou qualidades de Xangô, que, como vimos, se juntam às outras tantas de Airá. Em diferentes países e regiões da diáspora africana em que a religião dos orixás sobreviveu e prosperou, há diferentes variantes das qualidades dos orixás, pois cada grupo, geograficamente isolado, ao longo do tempo, acabou por selecionar esta ou aquela passagem mítica do orixá. Muitas foram esquecidas, outras ganharam novos significados. Cada qualidade é representada por diferentes cores e outros atributos, de modo que, pelas vestes, contas e ferramentas, ritmos e danças, é possível identificar a qualidade que está sendo festejada, principalmente no barracão de festas dos terreiros. Não só por esses aspectos, mas também pelas oferendas votivas e pelos animais que são sacrificados em favor da divindade.

O culto se multiplica, o poder de Xangô se expande. Faces diferentes para outras faces. Diz um oriki:

Òlò áwá la wulú

Olodó òlò odó

Oyá walé ni ilè Irá

Sangò walé ni Kosó.

Senhor do som do trovão

Senhor do pilão

Oiá desaparece na terra de Irá

Xangô desaparece na terra de Cossô

Xangô de Oió, Xangô de Cossô. Da África e das América. Xangô é um e é muitos, mas, como indica o sentimento dos devotos, essa multiplicidade pode ser reunida numa só pessoa: Xangô. É o mesmo que dizer, nas palavras de pai Pércio de Xangô, babalorixá do Ilê Alaketu Axé Airá: É tudo Xangô.

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E assim termina minha "aventura" em busca do "Xangô do Oriente". Este "tal" que tantos umbandistas estranham, não é nada mais, nada menos que Airá que deu um "jeitinho" de entrar na Banda....



16 de ago. de 2009

Mitologia 1

Se a umbanda tem alguma teologia, ela mistura elementos africanos, católicos, indígenas, sem contar outros tantos elementos já mestiços. A questão sobre "onde" procurar um entendimento da nossa religião acaba obrigatoriamente passando pelo MITO, e muitas vezes fica restrito à mitologia africana.

Há que se saber que o mito é, antes de tudo, um estilo narrativo que visa passar de forma simples para as pessoas, preceitos, valores morais e explicações sobre como as coisas são. O Mágico é a característica principal deste estilo narrativo.

Quando estudamos mito em filosofia, nos voltamos principalmente para o mito como alegoria que esconde em seu interior algum tipo de "verdade" que pode ser digna de estudo. Mitos pretendem antes de tudo dar uma explicação da realidade e, seu caráter Mágico, representa o que pode estar oculto e velado nesta realidade. Não é o objetivo aqui, traçar de forma acadêmica os caminhos do Mito, mas podemos exemplificar algumas coisas recorrentes em mitologias (grega, africana, indígena) e que representam princípios universais que regem todas as coisas.

A lua (noite) é frequentemente relacionada ao princípio feminino, bem como o sol (o dia) relacionado ao princípio masculino.
A terra também é relacionada ao princípio feminino, O céu o princípio masculino.
Comum na estrutura mítica de quase todos os povos é a figura do oráculo, daquele que conta a história: na grécia as musas, na áfrica o babalaô, nas tribos indígenas o pajé, o ancião.

É comum nas estruturas míticas que da união do céu e da terra sejam geradas todas as demais coisas existentes. Se formos estudar a teogonia propriamente dita, veremos que há sempre 2 movimentos na geração das coisas, 1o. a cisão; 2o. união.... Assim vemos na Grécia Caos se cindir em érebos (noite) e éter (dia); O céu e a terra. Na África, vemos Olorum criar Obatalá (compreendido também como Oxalá, o céu) e Oduduá (a terra). Nos mitos indígenas encontramos Guaraci (o sol) e Jaci (a lua). Da união destes dois princípios surgiram todos os seres.

De forma mais próximas as mitologias indígenas e grega ainda reservam uma divindade para o impulso da união: Eros na grécia e Rudá para os Tupis. Já na mitologia africana a divindade que podemos relacionar é Exu (o orixá exu) que rege também os impulsos sexuais, mas é antes de tudo o princípio dinâmico que tudo move e transforma.

Nosso objetivo não é fazer uma analogia perfeita, mas sim, traçar elementos comuns. Se os mitos gregos podem ser estudados como representações arcaicas de uma concepção filosófica, porque não poderíamos fazer o mesmo com os mitos Africanos e Indígenas? Se eles tem elementos estruturais comuns, que na realidade são estruturas da própria narrativa mítica, porque não tentar estudá-los de forma mais detida?

As mitologias indígenas, africanas (e não a grega) podem ser grandes auxiliares na compreensão dos princípios da religião e de certas relações que aparecem no cotidiano dos terreiros. Principalmente quando estas relações remetem a peculiaridades das entidades que na umbanda se manifestam. Nossas entidades são, antes de tudo, mestiças em suas idéias e bagagens. Podemos ter um preto-velho que trabalhe elementos caboclos, ou um caboclo que trabalhe elementos mais africanos, ou ainda, caboclos e pretos-velhos que tragam bagagens de outras origens que não as africanas e indígenas apenas.

Exemplo de cosmogonia Africana:



Exemplo de Cosmogonia indígena:

Lendas de Dia e Noite




14 de ago. de 2009

Documentário sobre EXÚ

Comecei este blog de forma errada, porque nenhum trabalho deve ser começado sem antes pedir proteção aos exus.

Exu na umbanda, bem como nas demais religiões afro, é, antes de tudo, um protetor, uma espécie de guarda costas. É sem dúvida a figura mais polêmica da religião por causa não apenas do sincretismo com o demônio, mas também por seu aspecto humano.

Muita coisa pode ser dita sobre os exus, mas guardarei para outra postagem. Por hora segue o documentário "Dança das cabaças - o Exú no Brasil". (clique na imagem abaixo para assistir o filme em outro Blog).



Dirigido por Kiko Dinucci, o filme passa pelas diversas vertentes das religiões afro-descendentes, dos candomblés (de tradição Nagô, Gege, Bantu), Tambor de Mina, passando pela Umbanda e Quimbanda. Dança das Cabaças-Exu no Brasil conta com participações de Sacerdotes e estudiosos.

Laroyê Exú!

Boa seção a todos!

13 de ago. de 2009

Sobre Cabolcos...


Os caboclos são entidades que se manifestam na umbanda e em alguns candomblés, que representam as origens indígenas do povo brasileiro. Isso a maioria dos adeptos de ambas as religiões sabem. O que talvez não saibam é que a forma de apresentação destes caboclos, sua dança, gestual, objetivos e forma de trabalhos variam conforme as casas onde trabalham.

No candomblé de caboclo, muitas vezes, estes caboclos aparecem com caracterizações próprias e um modo mais solto de lidar com o público e pessoas da casa. Muitos médiuns ventem-se de acordo com o desejo manifestado pela entidade.

Caboclo de pena (indígenas), com as penas que o caboclo pedir.
Caboclo de couro (boiadeiros e representantes do lado sertanejo, caboclo propriamente dito) com chapéus de couro e outros acessórios que marquem a sua identidade sertaneja.

A diferença é marcada também na dança e no gestual....

Em casas de umbanda não é habitual caracterizar estas entidades com vestimentas próprias, ficando a sua identidade demarcada apenas pela sua dança e gestual.

A forma de trabalho também varia, até onde pude entender. Na umbanda que conheço, caboclos ditos "boiadeiros" tem seu lugar reservado a trabalhos de descarga, eliminação de energias negativas, tanto do médiun que trabalha com ele quanto daqueles que procuram o auxilio dessas entidades. Os caboclos "de pena" tem atribuições mais variadas como, trabalhos de cura com ervas e cantos, magnetização e equilíbrio psíquico, conselheiros, além dos trabalhos de descarga.

No candomblé de caboclo, a diferença entre estes tipos de trabalhos se torna menor, e podemos encontrar caboclos de couro manipulando ervas entre outras coisas...

Segue abaixo um vídeo que mostra um pouco da figura do caboclo nos candomblés de caboclo:

Caboclos de um Brasil Caboclo




O documentário mostra um pouco do que é a figura do caboclo no candomblé de nação Angola e sua forma de trabalho.

Achar um vídeo sobre caboclos e sua manifestação na umbanda e forma de atuar na umbanda que dê conta da diferença que pretendo pontuar aqui é mais difícil. A maioria dos documentários e vídeos instrutivos voltam-se mais ao candomblé como expressão de cultura brasileira, esquecendo algumas outras tantas manifestações religiosas.

Muitas vezes noto uma preferência antropológica à religiosidades que mostrem de forma mais "simbólica" a "cultura" do povo brasileiro mestiço, mantendo um distanciamento etnológico entre o que é "Brasil" e "derivado dos povos africanos". Uma abordagem muitas vezes etnocêntrica que põe o brasileiro "de fora" da sua própria nacionalidade.

Há uma crítica aqui? Sim, há. Esta crítica tem um duplo direcionamento: o primeiro direcionamento volta-se sobre o olhar academicista diante da cultura e expressão religiosa como objeto, que torna as formas de abordagens antropológicas muitas vezes vaga, quando não exaltam apenas o aspecto "pitoresco" dando um ar de "primitivismo" a estas expressões que, antes de serem culturais, são religiosas e, como tais, possuem uma unidade doadora de sentido e de realidade. Esta unidade doadora de sentido, não é mais africana, nem católica, nem kardecista, nem tampouco "afro-brasileira" - que dá um sentido de segunda África - mas eminentemente brasileira. Elas expressam um modo de viver e de pensar que é própria da nossa nação, que não é africana, não é indígena e nem européia.

A segunda crítica vai para os adeptos da umbanda e até do candomblé que, muitas vezes iludidos pela falta de um corpo doutrinário escrito de nossa religiosidade, se voltam aos estudos antropológicos e tentam reproduzí-los em suas concepções pessoais da religião.

O importante destacar nesta postagem é que por caboclos, entendende-se bem mais que índios, ou entidades que representam antepassados indígenas. Ao contrário é na figura do caboclo que se destaca de forma mais veemente a identidade brasileira, do mestiço.

As diferenciações vistas nos terreiros de umbanda, não "simbolizam" a diferença de sua origem, mas sim a diferença de formas de trabalho e funções exercidas em nossa religião.

Vídeo lindo de Iemanjá...



Iemanjá, Mother of living waters





Descrição do Vídeo:

The Orixá Iemanja, goddess of the sea, in the Afro Brazilian spiritual tradition. Danced by Rosangela Silvestre, filmed and edited by Layne Redmond. shot in Salvador, Brazil on the beach of Iemanja.

Odoiá, minha mãe!

12 de ago. de 2009

Começando a coleta de dados...

Segue um documentário muito interessante sobre as origens do candomblé, produzido pela TV FUTURA:


Em breve edito este post com comentários sobre o documentário.
Adianto que os comentários da Valdina Oliveira Pinto (na foto abaixo) são ótimos!

Segue uma citação:

É um equívoco, quando se fala em Bahia, pensar só em iorubá. Os iorubás chegaram depois, quando já havia negros na Bahia. O recôncavo e a zona rural estão aí para comprovar. Você encontra tantos sinais da presença banto, que talvez a gente nem identifique mais porque já é brasileiríssimo, já está misturado. O povo banto chegou no início do tráfico de africanos, quando os portugueses nos colonizaram. Eles formaram, com indígenas e os próprios portugueses, a cultura do povo brasileiro.


The Begining....

Resgatar memórias e reconstruir fragmentos é fundamental para a continuidade... Uma pessoa que se perde no tempo dificilmente saberá para onde anda. É necessário caminhar, mas caminhar conscientes de que ao mesmo tempo que não somos mais os mesmos, somos a soma de tudo o que se foi.

Já fomos indígenas, africanos, europeus e hoje somos apenas brasileiros. Uma mescla de todos os antepassados que ao mesmo tempo já não é mais nenhum deles, mas algo novo reconstituido do velho. É o baú velho que renova o novo, o novo quem reconstrói o velho.

Neste baú serão não apenas resgatados mas reconstruídas várias histórias, sem preocupação com tempo e espaço que, desde Einstein, são relativos... hehehe O importante é mapear uma memória coletiva, rastrear o subconsciente esquecido e rico que forma cada um de nós. Em termos mais intelectualizados, poderia dizer que traça-se aqui uma antropologia hermenêutica, uma história da mitologia, uma filosofia.

A religiosidade aparecerá aqui como pano de fundo, mas não é o central. Não louvaremos mistérios de fé, porque na realidade não há mistérios. O que existe é falta de compreensão e tempo de resgatar a história e filosofia que se mesclaram constituindo em um novo balaio uma expressão chamada Umbanda, cujos seguidores tem dificuldade em definir. Umbanda está para além de uma expressão religiosa, mas é a expressão do que somos hoje, mestiços, mesclados, misturados.... muitas vezes confusos e indefinidos. Categorizamos de forma geral o negro e o branco e o índio, em um país onde já não há mais "etnias puras". Mesmo àquelas que permanecem próximas a sua constituição original, já se mesclaram com os apelos seculares de uma inserção social e globalização.

A umbanda, como expressão cultural religiosa brasileira, esconde dos olhos de seus seguidores sob o apelo do "mistério", da "mironga" o que talvez possa ser considerado uma expressão filosófica própria do Brasil. Não há nenhuma expressão popular que não caiba dentro da rede da umbanda. Uma filosofia onde Orixás, Santos, figuras folclóricas brasileiras, danças, cântigos, ervas, simpatias constituem uma rede de significação próprias que excedem os aspectos "simbólicos", aclamados pelos antropólogos, bem como excedem uma "teologia", que, ainda é vista com olhares das antigas teologias africanas e católicas.

Estão certos quando dizem que todas estas coisas constituem a umbanda. Porém, errados quando tentam tornar a umbanda uma derivação, um rito de segunda ordem, destas primeiras teologias e cosmogonias.

Como toda filosofia e todo sistema filosófico que já existiu na história da humanidade, a Umbanda leu, absorveu, se apropriou e redefiniu essas teologias. Transformou-as em uma filosofia própria e que mesmo inconscientemente, constitui uma idendidade, um modo de ser próprio do brasileiro.

Este é o pensamento inicial deste blog que virá coletar dados e reflexões sobre o tema. A umbanda como modo de expressão de uma filosofia própria ao brasileiro.

That's it!