Segue abaixo o texto que redigi:

Omulú/ Obaluayê
Este é um Orixá polêmico, conhecido por sua relação com a doença e a morte. Alguns temem o seu poder por considerar perigoso. Mas todas este medo é fruto, na realidade, de uma profunda ignorância e de certos “mitos” que foram cultivados durante anos.
Um dos primeiros equívocos que deve ser desfeito é a consideração dos nomes Omulú para uma qualidade mais nova do orixá e Obaluaiê para uma qualidade mais velha do mesmo orixá. Na realidade, os dois nomes remetem ao mesmo orixá à mesma energia.
O segundo mito que deve ser desfeito é o do temor a este Orixá por sua relação com a morte. Como praticantes de uma religião espiritualista, não devemos entender por “morte” um término, um “fim de linha”, um ponto no tempo onde a vida acaba. Ao contrário: a morte representa fundamentalmente a mudança. A transformação de estados e situações. Um exemplo claro são as fases da vida. Uma vida normalmente é marcada por mudanças: deixar de ser criança, deixar de ser adolescente e tornar-se um adulto. Geralmente escolhemos um fato que demarca, temporalmente, esta mudança: a primeira menstruação de uma menina, o primeiro beijo, etc... São momentos onde adquirimos novas concepções e compreensões de mundo, sobre o que é realmente importante na nossa vida e aquilo que deixa de ser importante. Em uma escala maior podemos pensar na “morte” como uma mudança similar: deixar de ser corpo físico e ser apenas espírito e perispírito, o que faz, naturalmente com que se ganhe novas compreensões de vida, destino, etc. A morte, neste sentido, não é um “fim de linha”, um “término”, mas a marcação de um momento de mudança extrema, seja neste nosso plano material, seja no plano espiritual. Esta é a simbologia do Orixá Omulú que costuma ser tão mal compreendida, quanto são mal compreendidas as fases de grandes mudanças em nossas vidas: uma separação, um momento difícil mas que promove crescimento pessoal, por exemplo. Por isso que muitas vezes o vemos e ouvimos falar deste Orixá como o Orixá dos mistérios da vida e da morte, daquilo que está escondido, oculto para a nossa compreensão. Mas se pensarmos na força deste Orixá como colocamos aqui, Omulú está longe de ser o Orixá que representa a “morte” no sentido ordinário, mas sim o Orixá da continuação, da perseverança, daquele que permanece firme diante das diversidades.
O Elemento natural ao qual está ligado é a terra. A terra é o local onde enterramos nossos mortos, mas é também o local que gera a vida e nos dá o alimento que nos sustenta. Mais uma vez, no elemento terra encontramos a característica da transformação. A fertilidade que dá vida à semente que brota, a fertilidade concedida pelo material orgânico em decomposição na terra. A terra é a base de toda mudança e de toda a transformação. É rica e variada as potencialidades da Terra, aquilo que a terra pode nos trazer. Em um pedaço de terra pode ser formada uma comunidade e enterrado nossos mortos, com terra cultivamos alimentos, com a terra podemos construir nossas casas, bem como criar esculturas em barro. Assim , Omulú, como Orixá da terra, está também associado à riqueza, às possibilidades, às alternativas variadas as quais podemos escolher, sempre. Criar e recriar nossas vidas quantas vezes for necessária. Esse tipo de transformação contínua, faz com que Omulú possa ser relacionado, também, à transmutação que gera vida.
O terceiro mito que deve ser desfeito é aquele que diz ser Omulú o responsável por causar doenças. Ao contrário, Omulú é aquele que cura, tanto as doenças físicas quanto as doenças do espírito. A cada mudança marcas são deixadas, superar essas marcas, significa se desvincular de forma completa do momento que antecedeu à mudança. Significa a Cura, por meio do qual se torna possível seguir em frente sem pendências passadas.
No campo físico, a concepção de Omulú como orixá da cura está relacionada, também, às características deste Orixá. Na mitologia, cada orixá tem um aspecto positivo e outro aspecto que está relacionado à sua ira. Com Oxum, o ciúme; com Ogum, a raiva; com Omulú, a doença. Mas disso não se segue que Omulú seja um Orixá ruim, que promove coisas ruins aos seus filhos. Ao contrário. Como Omulú é também relacionado às doenças, ele passa a ser, principalmente, aquele que as previne e, eventualmente, cura se o problema for de ordem espiritual. É ele quem cuida para que uma comunidade viva de forma saudável.
Desfeitos os mitos que cercam a imagem deste orixá podemos entender melhor que o temor que o cerca tem origem, principalmente na má compreensão das características deste Orixá.
Vimos que Omulú rege as transformações da vida, todas as possibilidades de mudanças, que é associado à terra que é a base de toda a nossa vida e sustento, tanto individual, como da comunidade em que vivemos. Vimos, também, que é ele quem pode nos ajudar a prevenir as doenças e garantir boa saúde à nós e àqueles que nos são próximos. Assim, Omulú está muito distante das concepções equivocadas que podemos encontrar em vários terreiros, na internet e até mesmo em alguns livros. Tais equívocos de compreensão da força deste Orixá, chegam a ser até mesmo contrárias ao que ele de fato representa. Omulú, na verdade, é um grande pai, um grande Orixá, que pode nos fornecer todas as bases sólidas (como a terra em que pisamos) necessárias para uma vida plena, nos ajuda a superar as diversidades e a mudar quando necessário sem medo ou tristeza. É aquele que pode nos ensina a seguir, perseverar, mesmo quando as mudanças nos atropelam, nos orientando e tornando mais fácil lidar com as coisas que não conseguimos entender por completo. Além de ser aquele que pode nos ajudar a manter nossa saúde, física, espiritual e mental.
Mais alguns dados:
Dia da semana: segunda-feira, conhecido também como o dia das almas. Omulú rege a linha das almas pela qual vem todos os pretos velhos. Em alguns lugares, também, ele é regente da linha de entidades que trabalham com cura.
Cores: depende do terreiro, há locais onde as cores deste Orixá são preto e branco leitoso. Em outros locais é preto, vermelho e branco. Há ainda certas certas casas que, dependendo da vibração do orixá Omulú da pessoa admitem também o roxo, como cor própria à Omulú. Porém eu conheço o roxo como cor própria a Nanã.
Locais: cemitérios, praias e grutas. Sim praias, não devemos esquecer a forte ligação que este Orixá possui com mãe Iemanjá.
Elemento: terra.
Área de atuação: Ele é bem popular em relação à cura de doenças. Conhecido também como o orixá responsável pelo momento do desencarne. Porém, acho mais adequado compreendê-lo como simbolizando as mudanças radicais em uma vida, a mudanças de fases, e todos aqueles momentos em que, de certo modo, algo antigo morre para dar lugar ao novo.
Sincretismo: São Lázaro, São Roque e em alguns lugares São Bento.
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