Recentemente ganhei alguns livros sobre umbanda e religiões afro brasileiras e, em um deles Rituais Negros e Caboclos de Nívio Ramos Sales, li algo sobre o qual eu discordei durante um bom tempo:
Na economia existe a lei da oferta e da procura, na umbanda, infelizmente, por diversos fatores, essa lei é usada como uma constante. O imediatismo, o agora é o predominante. O indivíduo busca respostas várias e solução de problemas que a sua sociedade não consegue responder, tampouco solucionar.
Eu sempre critiquei, e acredito que todo umbandista que ingresse em um terreiro aprende essa crítica, a busca de resultados imediatos para os problemas. Nem sempre a coisa acontece dessa forma e, em muitos casos essa acaba sendo a razão da descrença de muitos. Umbanda é magia, sim, mas não para se conseguir tudo o que se quer. Conseguir ou não o que se busca, depende de muitas variáveis e, na maioria dos casos, não basta ir uma vez a uma consulta com caboclos, pretos-velhos, ou exus.
Há no imaginário popular uma visão da umbanda como a prática de trabalhos para suas realizações, esse imaginário dá margem a muitos charlatões que acabam usando o nome de nossa religião para praticar trabalhos nada louváveis (amarrações, trabalhos para o mal, etc.) e até mesmo cria o espaço propício para que charlatões de diversos tipo se aproveitem dos interesses daqueles que acreditam ser essa a função da umbanda.
A briga entre umbandistas sérios e as pessoas que usam mal o nome da umbanda é grande, é longa e histórica. Não são poucos os livros de antropologia que destacam a umbanda como um "culto confuso" e sem definição. No livro Vovô Nagô e Papai Branco, que já comentei aqui, a Mãe de Santo do terreiro pesquisado do Recife diz que a umbanda é a religião que "tem muita invenção" [sic], além de ser a religião que "cobra dinheiro da irmandade"[sic]. Além dessa descrição, há a comparação entre a umbanda e as antigas macumbas cariocas que foram muito perseguidas por serem "religiões negras" - no sentido literal, pois eram os negros que frequentavam; e no sentido metafórico, indicando que era uma forma de magia usada como vingança para perseguições e combate à inimigos.
São muitas as causas da confusão que se faz ao pensar a umbanda como religião imediatista. No entanto, há algo na afirmação citada ao início desse texto que não é totalmente errada: O indivíduo busca respostas várias e solução de problemas que a sua sociedade não consegue responder, tampouco solucionar.
O público que busca a umbanda é, hoje, muito diversificado. Ainda há a necessidade de esclarecer as pessoas que buscam a umbanda em relação à sua função, mas acredito que grande parte dessa visão estereotipada que mencionei aqui já está desfeita. Apesar disso, acredito que a afirmação de Nívio está correta, pois não são poucos os casos em que as pessoas que procuram um centro de umbanda pedem orientação, ajuda até mesmo para soluções jurídicas, buscam compreender sua condição. O público da umbanda, como disse, é bem diversificado. vai do pequeno empresário pedindo proteção e ajuda nos negócios, à faxineira, ao morador da favela que tenta driblar suas dificuldades diárias em relação à violência e falta de infraestrutura. Vai do mocinho ao bandido, e tudo isso seguido de um aconselhamento amigo das entidades que não julgam. Não veem cara, apenas o que há no coração das pessoas, tentando resgatar-lhes a autoestima, a força para continuar a caminhada. Para, muitas das vezes, resgatar a dignidade perdida em meio a tantas adversidades.
Se há algo que o médiun de umbanda que vai para a linha de atendimento aprende muito rápido, ou pelo menos espera-se que aprenda, é que não se pode julgar as pessoas sem saber o que se passa no coração delas...
Já fui muito contrária à falas como as de Nívio, pelas razões que aqui expus. Hoje repenso falas como essa e vejo que há, no fundo, uma razão de ser. Não que a umbanda vá resolver cada um dos problemas que chegam até ela, mas auxilia, acaba sendo um braço amigo que integra pessoas que são excluídas, que consola o sofrimento e resgata muitas vezes a dignidade que a sociedade não dá.
Essa é a reflexão de hoje!
Nenhum comentário:
Postar um comentário