19 de jun. de 2015

A umbanda e as diferenças socioculturais

Essa semana foi atípica para os que militam na seara espiritualista. Uma menina de 11 anos, candomblecista apedrejada no subúrbio do Rio, um templo apedrejado no humaitá, zona sul do RJ. Ainda no RJ um médium da casa de Frei Luiz foi brutalmente assassinado, a razão ainda é desconhecida. E mais o túmulo de Chico Xavier foi danificado à pauladas. Nas redes sociais há uma grande mobilização de umbandistas, espíritas, candomblecistas e até mesmo alguns evangélicos, contra ações violentas que atingem as religiões espiritualistas, principalmente as de matriz afro.

Simultaneamente a isso, algumas velhas observações vieram à tona em minha mente, as quais quero compartilhar aqui.

Já tem tempo que observo que a umbanda não é mais uma religião "popular" e feita "para todos". Muito embora as portas dos templos umbandistas estejam abertas para qualquer um que queira entrar -  sem distinção de classe social, econômica ou cultural - é fácil observar que os principais adeptos e frequentadores da religião nos dias de hoje são pessoas, em sua maioria, de nível sócio-cultural razoável. Com isso digo, pessoas alfabetizadas, com ensino médio completo e algum curso complementar (curso técnico, superior, etc...). Enquanto isso, nas igrejas evangélicas que se proliferam à olhos vistos, vemos maior incidência de pessoas com classe sócio-cultural mais baixa. Antes que alguma inferência equivocada surja, não pretendo dizer que os índices de violência estão relacionados à classe sócio-cultural das pessoas. Não, não é isso! Meu objetivo é, na verdade, questionar o que nós possamos estar fazendo de errado para que, em uma dada comunidade ou bairro, uma maioria menos culta prefira à igreja que o terreiro.

Não é incomum vermos entre os evangélicos depoimentos sobre passagens à terreiros de umbanda  e candomblé que antecederam o seu ingresso na igreja. Uma parcela abandonou os terreiros por não se adaptarem aos preceitos que exigem, muitas das vezes, uma mudança radical nas concepções de comunidade: exemplo, antes de ser um Yaô, no barracão de candomblé, deve-se comer no chão e com as mãos... No terreiro de umbanda, deve-se aprender a servir na cambonagem e em outros serviços da casa, antes de ser um médium de atendimento. Outra parcela abandona pela insatisfação de não verem seus problemas resolvidos de forma imediata. Em ambos os casos, falta instrução sobre a religião. E, de fato, vemos muitas casas que pecam em relação a isso: ou pecam pela ausência absoluta de informação, tanto para os médiuns quanto para a assistência; ou pecam pela informação transmitida de forma inadequada, em linguagem "erudita" demais. No segundo caso, a erudição nem está no vocabulário usado ou coisa parecida, mas na forma de transmissão.

Eu sempre relembro as histórias do início da umbanda de Zélio de Morais "umbanda simples de coração, para os simples". Mas os simples de 1918, já tinham uma cultura um pouquinho melhor que os simples de hoje. Talvez falte adaptação da umbanda ao meio... Se por um lado já não se pode mais trabalhar na umbanda sem nenhum estudo, por outro um estudo demasiado teórico não facilita a comunicabilidade com esses setores mais carentes. Será que a umbanda de hoje é, de fato, para os mais simples? Fica aqui a dica para reflexão! 

Minha reflexão é crítica sim, mas crítica no sentido de repensarmos a prática dos terreiros e a forma de lidarmos com as pessoas. Não creio que apenas a falta de cultura seja determinante para a disseminação do ódio generalizado que as Igrejas pregam. Mas acho que há algo, também, no que move a procura e a permanência das pessoas nesses locais. Deve existir algo, algum diferencial na forma de comunicar de um pastor evangélico, em relação à forma como a umbanda hoje comunica a sua doutrina. Se até mesmo a igreja católica conseguiu repensar seus dogmas e seus ritos em função do crescimento do protestantismo, porque nós, umbandistas e espiritualistas não podemos, reflexivamente, repensar e tentar identificar pontos de mudança na nossa forma de lidar com as pessoas?

Fica a sugestão de reflexão...



8 de fev. de 2015

Intolerância Religiosa - Parte II - As Relações de Poder

Quem nunca ouviu a frase "política e religião não se misturam"?

Quem pensa isso se engana! Toda a história de repressão às religiões de matriz africana passa, também, pelas relações de poder entre dominador e dominado, entre o senhor e o escravo. 

Na postagem anterior mencionei o caso carioca do Juca Rosa. Sobre a figura dele pairava um ar de mistério e de poder, poder concedido por conhecimentos mágicos de "feitiços". Uma das causas da prisão de Juca Rosa, muito embora não pudesse constar nos autos, era essa relação de temor e poder que o colocava como subjugador de seus seguidores.


Além do caso de Juca Rosa, temos na literatura a descrição do Pai Raiol, feiticeiro, no romance "As Vítimas Algozes" de Joaquim Manoel de Macedo, escrito em 1869, antes da abolição da escravatura. O ponto de partida do autor é a escravidão como algo que corrompe a essência do negro. O negro se torna mau, cruel, como uma consequência dos maus-tratos da escravidão e, por isso indigno da confiança de seu senhor. O negro escravo, por causa da sua condição, sempre será aquele que conspira contra o seu senhor. Não é diferente no caso do Pai Raiol. Pai Raiol é um negro que conhece rezas e segredos das ervas e que com isso dominava outros negros e era temido por eles. Descrito como um "bruxo", capaz de matar só com um olhar qualquer um que atrapalhasse seus planos, Pai Raiol se envolve em uma trama cujo objetivo é tomar a fazenda do seu proprietário. Em resumo, Joaquim Manoel de Macedo, descreve o negro bruxo como capaz de tomar o poder de seu senhor. Na trama, Pai Raiol não consegue seus objetivos, mas não porque seu poder fosse falho, mas porque é assassinado por um outro escravo. Mas, antes desse assassinato consegue destruir a família do seu senhor, retirar-lhe a dignidade fazendo-o se envolver e ter filhos com uma escrava e dando-lhe ervas venenosas que o colocaram fraco e doente. Enfim, Pai Raiol teria conseguido seu objetivo se não o tivessem assassinado.

Na história temos a Revolta dos Malês, que completa 180 anos este ano. Negros, principalmente muçulmanos, mas também alguns nagôs, se reuniram em um levante que pretendia instaurar um governo malê em Salvador. Um dos fatores que possibilitou a realização desse levante, foi o fato de serem os malês, negros instruídos. Sabiam ler e escrever em árabe, o que evitou que o movimento fosse descoberto antes do tempo. Em reportagem recente do Jornal O Globo, "Revolta dos Malês, 180 anos" é dito:

De acordo com historiadores sobre o tema (não gosto dessa expressão, porque sempre quero saber quais historiadores disseram) a Revolta dos Malês foi fortemente reprimida. Das seis centenas de revoltosos, 73 foram mortos em enfrentamento, além de dez oponentes ao levante. Os derrotados foram condenados a penas de açoite, prisão, banimento e até morte. A partir dali, a população africana passou a ser submetida a uma vigilância e repressão abusivas.

Dizem, também, que os Malês eram "bruxos", os ditos kimbandas, como também já publiquei aqui no blog. Pairavam sobre eles, segundo João do Rio, o mesmo ar de mistério que cercavam figuras como Juca Rosa e o personagem Pai Raiol.

Esses exemplos mostram como a relação entre a proibição da prática de rituais africanos e, consequentemente, os rituais que mantém essa matriz africana no Brasil, está intimamente ligada com a relação de poder entre o negro e o branco. Retirar do negro a sua prática religiosa, colonizá-lo, era também uma forma de impedir que o negro, seja por atuação em rebeliões, seja por magia, pudesse tomar o poder dos brancos.  Se buscarmos na história do Brasil, vemos que muitas das organizações religiosas negras tiveram, também, como função, organizar os negros na luta pela liberdade e autonomia, como por exemplo, a irmandade da Boa Morte. 

Enfim, as organizações religiosas negras e a perseguição a elas sempre esteve ligada à relações de poder e, consequentemente, a políticas que visavam coibir o negro escravo e manter o poderio branco. Então, por qual razão hoje afirmamos, com tanta veemência, que política e religião não se misturam? Por que questionamos tanto políticos que levantem a bandeira das religiões afros? E por que não questionamos quando algum político se elege sob a bandeira cristã? Por que, mesmo tendo partidos como o PSC (Partido Social Cristão) elegendo candidatos, insistimos na ingênua ideia de que vivemos em um país laico? Por qual razão casos de agressões à terreiros são tratados de forma diferenciadas pela polícia e pelo poder público em geral?

A resposta à essas questões envolve, novamente, a cultura que já ficou enraizada no inconsciente de grande parte das pessoas: catolicismo, cristianismo são normais, enquanto que as religiões de matriz afro são "negras", são mágicas e envolvem poderes desconhecidos os quais devem ser temidos! O que não é posto de forma consciente, e que subjaz essa ideia, é o fato dela expressar uma relação de poder, consequentemente, uma relação política.

Essa diferença entre as religiões afro e brancas, exprimem antigas diferenças entre senhores e escravos, que eram relações políticas. A diferença entre as religiosidades expressa, ainda hoje, as diferentes relações de poder da época da escravidão no Brasil. Sim, ainda hoje! Ainda hoje vemos praticantes da umbanda viverem como viviam as mulheres da Irmandade da Boa Morte na Bahia: na frente a igreja, atrás, nos fundos, o candomblé, a matriz africana! Essa diferença entre dominador e dominado ainda é uma realidade, infelizmente, nos dias de hoje. Espero que um dia eu veja isso mudar!

Ainda sobre as relações entre religião e poder, posto abaixo dois documentários interessantes que podem ajudar na reflexão sobre o tema:

Irmandade da Boa Morte:

Parte 1: 





Parte 2: 





Parte 3: 






Alagoas: O Quebra de Xangô:















Intolerância Religiosa - Parte I - Entre o Silêncio e o Medo

Essa semana um fato pegou de surpresa a todos que pertencem ao centro onde trabalho há três anos. Uma das filiais da casa teve a porta arrombada e quebraram imagens de pretos-velhos e exus da entrada. Tudo indica que o invasor iria quebrar o congá e as demais imagens do interior da casa, quando desistiu da ideia, largou um pedaço de pau no meio do terreiro e saiu. Não houve furto de dinheiro e nem da comida que existia lá dentro, fazendo com que os policiais concluíssem que não se tratava de um assalto, mas de um ato pontual, cuja finalidade era atacar os símbolos do terreiro: imagens de exus, pretos-velhos e orixás.

http://extra.globo.com/casos-de-policia/centro-de-umbanda-no-cachambi-alvo-de-depredacao-ato-de-maldade-diz-dirigente-15239467.html



O caso foi identificado como intolerância religiosa e ganhou os jornais, TVs e redes sociais, com uma força impressionante! A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, membros de diferentes religiões, foram à filial atacada prestar solidariedade. O vereador Átila Nunes organizou junto à casa um ato de desagravo que ocorreu neste último sábado, 07/02 na rua em que se localiza a Filial. 

Seguindo o que a minha consciência mandava como umbandista e filha da casa que sofreu a agressão, compareci ao ato e me surpreendi com o fato de poucas pessoas terem comparecido. Minha expectativa era que houvesse um número maior de pessoas, pelo menos, um número maior de médiuns da casa presentes. Saí de lá refletindo sobre a razão disso. A indignação pelas redes sociais foi enorme, mas, na hora de comparecer a um ato público, poucos foram... Perceber essa desunião me colocou uma pulga atrás da orelha. Qual seria a verdadeira causa disso? E é a reflexão sobre a causa dessas ausências que pretendo expor aqui. Essa reflexão leva, automaticamente a uma explicação do porquê, mesmo sendo sabido que a invasão de propriedade é crime, pessoas que não são em sua raiz "criminosas" acabam vendo nos terreiros um caso onde essa invasão é permitida, e até mesmo aceita como correta! A questão é religiosa? Sim! Mas não é apenas isso, trata-se, também, de uma questão cultural construída ao longo da história.

Existe, entre os umbandistas, uma cultura do silêncio. 

Quem entre nós nunca ouviu frases como "centro bom, é centro longe!" ou ainda "debaixo da batina tem dendê". Essa última frase, aliás, aprendi com a minha mãe, que frequentava a umbanda como assistente, quando eu era criança, e ia ao Mosteiro de São Bento na missa da páscoa. Ensinava que não era bom dizer que ia na umbanda, pois as pessoas reagiriam mal a isso. Sim, era exatamente isso que eu ouvia. Cresci entre o banquinho do preto velho e as missas de domingo! Essa cultura de que a umbanda não pode ser dita é que alimenta a ideia de que invadir um terreiro e quebrar suas imagens pode não ser um crime, mas algo que pode ser feito.

Durante anos da história do Brasil, em vários estados, incluindo Rio de janeiro, as religiões afro foram perseguidas e coibidas. Ser de uma religião afro implicava lidar com "forças ocultas do mal". Muitos eram acusados de bruxaria e contravenções. Já publiquei aqui nesse blog o caso carioca do Juca Rosa, no período do Império pré-abolição, que fora condenado por estelionato, já que na época ainda não havia leis que impedissem as praticas religiosas dos negros. Após a abolição da escravatura, leis que proibiam as práticas de candomblé e da capoeira foram aprovadas. 

No caso de Juca Rosa, fica claro que o temor relativo à pratica religiosa era o de um "poder" concedido pela prática de "ocultismo" para a resolução dos casos que chegavam até ele. Casos que não eram restritos às classes menos favorecidas, alguns nobres o procuravam, também, às escondidas. Esse poder não era, certamente, um poder político ou financeiro, mas algo de "sobrenatural" que as pessoas temiam. Um negro com poder? Algo inconcebível em uma época onde era quase consensual ser o negro inferior ao branco. Este é um debate que vale à pena ser desenvolvido, mas que deixarei para outra ocasião. O que importa é que esse "poder" não podia existir. A melhor maneira de reprimi-lo era reprimir as práticas que dessem algum "poder" a esses negros. 

O mesmo tipo de perseguição ocorreu na época da fundação da umbanda. Atabaques, se fossem ouvidos, eram apreendidos e as casas fechadas. Grande parte das casas antigas têm nomes sem relação direta com umbanda ou práticas religiosas negras: Tenda Espírita N. Sra. da Piedade, Tenda Espírita Mirim, Centro Espírita Caridade de Jesus, são exemplos de centros de umbanda que surgiram nas três primeiras décadas do Século XX e que não traziam em seu nome referência à umbanda. Alguns centros, tinham suas sessões públicas na cidade, sem atabaques, mas as sessões de terreiro, com cânticos aos orixás e atabaques, aconteciam longe dos grandes centros, para que não houvesse problema com a polícia (daí a expressão que centro bom é centro longe!) São várias as histórias que narram casos de prisões de dirigentes de centros de umbanda no começo do século XX.

O umbandista, desde o seu início, sempre se escondeu. Com exceção daqueles que tinham missão de levar a religião adiante. Nunca foi cobrado do umbandista um comprometimento maior com a sua religião, tal qual acontece com outras religiões. E isso ocorre por ser a essência da umbanda prestar a caridade sem cobrar nada em troca. Assume a umbanda quem quer, assume quem escolhe fazê-lo e, infelizmente, nem todos o fazem. Aliás, o certo, até como uma espécie de proteção contra o preconceito, era esconder a umbanda. Outra razão pela qual o centro bom era aquele longe, mais fácil de manter o umbandista escondido.

Enquanto essa era a postura da umbanda, a ideia de que as religiões que cultuam orixás são "malignas" vai se criando mais forte no inconsciente popular. Tem gente que nunca soube nem a razão pela qual teme a umbanda, a "macumba", mas teme. Alguns, são indiferentes. E é isso que faz com que um terreiro de umbanda depredado não gere uma comoção tão forte a ponto de mobilizar, no mundo real, fora das redes sociais, as pessoas. Se por um lado as redes sociais servem para propagar fatos de forma viral, serve, também como máscara, como um escudo que esconde a covardia das pessoas diante do mundo!

A cultura do silêncio é, e sempre foi, ligada a cultura do medo. Medo de ser rejeitado, agredido, perseguido pelas suas crenças. Se historicamente as religiões negras foram massacradas, historicamente também foi construída uma aceitação tácita desse massacre como algo natural. E é essa aceitação que faz com que alguém considere menor que um crime comum, a invasão de um terreiro de umbanda e a depredação de suas imagens. E, infelizmente, essa ainda é uma realidade.

Sobre o caso do TCP, Templo a Caminho da Paz, espero que toda a movimentação pública, política, midiática, sirva para, pelo menos, pressionar as autoridades para a solução do caso e a punição dos culpados. Enquanto tais ataques permanecerem nas manchetes, sem que seja noticiada a punição de seus autores, permanecerá no imaginário doente de algumas pessoas que a invasão a esses locais é algo diferente de um crime!

Nota do Jornal "O Dia" 08/02/2015





28 de jan. de 2015

Tenda dos Milagres

Não sou grande fã de Jorge Amado, mas devo reconhecer que ele foi peça importante para a divulgação, aceitação e melhor integração da cultura negra na Bahia. No livro que já mencionei aqui várias vezes, Vovô Nago e  Papai Branco, é mencionada a forte participação de intelectuais, não apenas antropólogos, na consolidação das religiões afro como patrimônio cultural. Jorge Amado é certamente um desses intelectuais.

Tenda dos Milagres, publicado em 1969, não retrata apenas a questão negra e mestiça, mas vai além. Retrata toda a luta que houve entre diferentes intelectuais, junto à instituições públicas, entre si, no período onde grande parte dos textos clássicos de antropologia sobre cultura negra estavam sendo escritos. Destaca-se, particularmente o debate entre o intelectual negro, Pedro Arcanjo (Manoel Querino na vida real) e o famoso antropólogo branco Nilo Argolo (Nina Rodrigues), que defendia teses que colocavam o negro e sua cultura em um patamar inferior ao dos Brancos. Até hoje os textos de Nina Rodrigues são criticados em textos antropológicos e, apesar de etnocêntricos, são leitura obrigatória para quem pretende se inteirar de todo o debate racial existente no Brasil. A discussão entre os dois personagens, Pedro Arcanjo e Nilo Argolo, dá um "ar" intelectualizado ao livro e o torna interessante do ponto de vista antropológico, também. Pois sabemos que na literatura podem ser resgatadas várias formas de pensamento de época, além de retratar o impacto que certos debates - no caso os debates raciais que envolvem também as religiões de matriz africana - tiveram.



Como não sou fã de Jorge Amado, ainda não li o livro (sim, faço aqui um "mea culpa"), muito embora ele esteja aqui separadinho para que eu leia assim que eu terminar de ler vários outros livros que estou lendo no momento. Logo a razão dessa postagem não é o livro, mas um filme produzido por Nelson pereira dos Santos, em 1977, sobre o livro. O filme é ótimo e apesar de ser longo, prende bem a atenção de quem se interessa pelo debate.

Segue o link:





Caso alguém queira ler o livro, clique na imagem abaixo para baixar a versão em PDF:


Até a próxima!

Pai Antonio

Uma das bênçãos que a internet e a tecnologia nos proporciona é encontrar pérolas como esse vídeo com o áudio de uma fala do Pai Antônio incorporado no Zélio de Moraes.

Mesmo que eu diversas vezes questione a Zélio como "criador" da umbanda, é incontestável a importância dele e de seus guias para a formação da religião como temos hoje em dia. Sem dúvida esse é um áudio que vale à pena ser ouvido! Eu fiquei muito feliz quando me mostraramm, pois tenho enorme devoção pela falange de Pai Antônio. Na verdade, tenho devoção por todos os pretos velhos, mas a falange de Pai Antônio é algo especial para mim.

Segue a relíquia:




Até a próxima!



Malês e Kimbandas - II

Achei recentemente um artigo que aborda muito bem a influência muçulmana nas religiões afro-brasileiras. Segue o link:

https://sites.google.com/site/caboclopanteranegra/textos-doutrinarios-e-informativos/a-influencia-do-mundo-muculmano-no-candomble-e-na-umbanda


Um trecho de uma citação do artigo me chamou a atenção em particular, repasso aqui:


"Filho de Muhammad Salim e Fátima Faustina Mina Brasil, negros vindos da Costa da África, Assumano, “uma figurante impressionante de preto”- nas palavras do compositor e escritor Almirante – morava na rua Visconde de Itaúna, dizia trabalhar no comércio e dar consultas em sua residência, inclusive para pessoas conhecidas na sociedade carioca da época, como é o caso do jornalista e escritor Medeiros e Albuquerque.


Em 25 de outubro de 1927 , então com 47 anos, foi preso em flagrante, quando 'dava consulta' a Nair dos Santos, sendo levado para a Repartição Central da Polícia do Rio de Janeiro. Os investigadores policiais apreenderam alguns objetos em sua casa, entre os quais, um par de chifres de carneiro, três caramujos grandes, um pedaço de pele de cabra e fios de cabelo. Além disso, também foram encontradas receitas em caracteres arábicos, conforme depoimento do investigador Ruy Vasconcellos. Na conclusão do processo que se instaurou contra Assumano, consta que ele foi processado como incurso no artigo 157 do Código Penal de 1890, sob acusação de falso espiritismo e cartomancia. Mas os peritos concluíram que os objetos apreendidos não seguiam “as modalidades mais usuais na prática das ‘macumbas’ ou da ‘Magia Negra’”; sua especialidade era apenas “a prática de preces quasi sempre em linguagem africana, preocupando-se mais com a prática da caridade”. O processo foi arquivado em 28 de janeiro de 1928."


Em: Cultura, identidade e religião afro-brasileiras na cidade do Rio de Janeiro -1870-1930: cenários e personagens, Juliana Barreto Farias (grifo meu).


Fiquei me questionando se nessa época ele já conhecia, ou já tinha ouvido falar da Umbanda... Talvez seja um livro que valha à pena conferir.