10 de jun. de 2010
Instruções do Caboclo Mirin
É sempre interessante refletir sobre a forma como nos comportamos dentro das seções e durante os trabalhos espirituais!
9 de jun. de 2010
Um Pouco de Ervas e Folhas...
Porque sem elas pouco pode ser feito na umbanda.
Achei este video no BLOG : Umbanda Como ela é do Luiz Carlos. Um blog interessante e bom para consulta.
Achei este video no BLOG : Umbanda Como ela é do Luiz Carlos. Um blog interessante e bom para consulta.
Ensinamentos de Pai Agenor
Passo rapidamente aqui para postar um vídeo do pai Agenor, gravado pouco antes de sua morte.
Para quem não conhece Pai Agenor de Miranda Rocha, foi um estudioso das religiões afro, em especial o candomblé do qual era seguidor. Foi iniciado ainda criança para escapar de uma doença, e cresceu na religião tornando-se um dos babalorixás mais influentes da Bahia. Frequentemente convocado para decidir os rumos de grande partes dos terreiros de candomblé, foi ele quem determinou que Mãe Menininha presidiria um dos terreiros mais famosos da Bahia.
Este vasto currículo, na verdade, trata apenas da parte material que retrata a figura e a importãncia de Pai Agenor. No vídeo que segue, gravado pouco antes de sua morte em 2008, podemos testemunhar a razão de tamanha influência exercida no meio religioso. Tratava-se de uma pessoa esclarecida, com uma consciência de religiosidade de poucos. Vale a pena assistir:
Mesmo sendo um vídeo curto, vale destacar a humildade e os valores éticos e morais tratados neste vídeo, tão necessários a todos os terreiros e centros espirituais. Valores que muitas vezes faltam na mente dos praticantes de nossa religião.
Segue, também, para informação complementar a versão disponível no Google books do Livro:
As Nações Kêtu: origens ritos e crenças - Os candomblés Antigos do Rio de Janeiro.
É sempre bom termos vídeos como este e pessoas como Pai Agenor com quem possamos aprender um pouco mais.
Para conhecer um pouco mais da história de Pai Agenor, coloco aqui um documentário, longa metragem, que conta um pouco da vida dele e sua relação com o candomblé. Interessante para entendermos um pouco mais esta religião.
UM VENTO SAGRADO
Sinopse do filme: O longa-metragem documental Um Vento Sagrado retrata a vida e obra de Agenor Miranda, famoso jogador de búzios de candomblé. Nascido em Luanda, no dia 8 de setembro de 1907, o Pai Agenor, ou seu Santinho - como é conhecido - é filho de pai diplomata e mãe cantora lírica. Por volta dos cinco anos, escapou de uma enfermidade desconhecida quando, já desenganado pelos médicos, uma vizinha, filha de santo, convenceu seus pais a levá-lo ao candomblé. A partir daí, foi iniciado pela célebre ialorixá Maria Eugênia Anna dos Santos (Mãe Aninha), fundadora de um dos mais antigos candomblés de Salvador, o Ilê Axé Opô Afonjá. Curiosidade: Um Vento Sagrado é a expressão usada por Agenor Miranda para definir os Orixás, divindades da tradição religiosa Ioruba da Nigéria, do Candomblé do Brasil e da Santeria de Cuba.
Parte 2
Bom Filme!
Para quem não conhece Pai Agenor de Miranda Rocha, foi um estudioso das religiões afro, em especial o candomblé do qual era seguidor. Foi iniciado ainda criança para escapar de uma doença, e cresceu na religião tornando-se um dos babalorixás mais influentes da Bahia. Frequentemente convocado para decidir os rumos de grande partes dos terreiros de candomblé, foi ele quem determinou que Mãe Menininha presidiria um dos terreiros mais famosos da Bahia.
Este vasto currículo, na verdade, trata apenas da parte material que retrata a figura e a importãncia de Pai Agenor. No vídeo que segue, gravado pouco antes de sua morte em 2008, podemos testemunhar a razão de tamanha influência exercida no meio religioso. Tratava-se de uma pessoa esclarecida, com uma consciência de religiosidade de poucos. Vale a pena assistir:
Mesmo sendo um vídeo curto, vale destacar a humildade e os valores éticos e morais tratados neste vídeo, tão necessários a todos os terreiros e centros espirituais. Valores que muitas vezes faltam na mente dos praticantes de nossa religião.
Segue, também, para informação complementar a versão disponível no Google books do Livro:
As Nações Kêtu: origens ritos e crenças - Os candomblés Antigos do Rio de Janeiro.
É sempre bom termos vídeos como este e pessoas como Pai Agenor com quem possamos aprender um pouco mais.
Para conhecer um pouco mais da história de Pai Agenor, coloco aqui um documentário, longa metragem, que conta um pouco da vida dele e sua relação com o candomblé. Interessante para entendermos um pouco mais esta religião.
UM VENTO SAGRADO
Sinopse do filme: O longa-metragem documental Um Vento Sagrado retrata a vida e obra de Agenor Miranda, famoso jogador de búzios de candomblé. Nascido em Luanda, no dia 8 de setembro de 1907, o Pai Agenor, ou seu Santinho - como é conhecido - é filho de pai diplomata e mãe cantora lírica. Por volta dos cinco anos, escapou de uma enfermidade desconhecida quando, já desenganado pelos médicos, uma vizinha, filha de santo, convenceu seus pais a levá-lo ao candomblé. A partir daí, foi iniciado pela célebre ialorixá Maria Eugênia Anna dos Santos (Mãe Aninha), fundadora de um dos mais antigos candomblés de Salvador, o Ilê Axé Opô Afonjá. Curiosidade: Um Vento Sagrado é a expressão usada por Agenor Miranda para definir os Orixás, divindades da tradição religiosa Ioruba da Nigéria, do Candomblé do Brasil e da Santeria de Cuba.
FICHA TÉCNICA
Diretor: Walter Lima
Elenco: - Documentário -
Roteiro: Carlos Vasconcelos Dominguez, Walter Lima
Fotografia: Mário Cravo Neto
Duração: 93 min.
Ano: 2001
País: Brasil
Gênero: Documentário
Cor: Colorido
Parte 2
Bom Filme!
8 de jun. de 2010
As Faces de Santo Antônio.

Estamos chegando ao 13 de junho, dia de Santo Antônio, um dos Santos mais prestigiados no sincretismo umbandista.
De acordo com o que tenho aprendido, são 3 sincretismos que ligam Santo Antônio à Umbanda:
1) Na Bahia, Santo Antônio relacionado ao Orixá Ogum
2) Santo Antônio também é ligado à uma das qualidades de Xangô, Xangô Abomi.
3) Finalmente, temos fortes ligações entre Santo Antônio e os Exus, sendo muitas vezes considerado o Patrono do chamado "povo de rua".
Dedico esta postagem ao meu sincretismo pessoal, que liga Santo Antônio com um "danado" de um preto velho que me guia, me cuida, me ensina e que se tornou um grande amigo. Com ele aprendi que Santo Antônio tem ligação com a chamada "Linha das Almas" na Umbanda, linha sobre a qual, algum dia, me sentirei apta a falar.
Mas para o propósito desta postagem, basta que eu fale resumidamente (se for possível) sobre cada um dos sincretismos listados acima:
1) sincretismo com Ogum: Este sincretismo data da época da colonização. Como o Brasil foi colonizado mais ou menos na mesma época das cruzadas, grande parte dos Santos católicos que aqui chegaram eram guerreiros: São jorge, São Sebastão, entre eles estava Santo Antônio, conhecido como Santo Antônio militar. A ele foram atribuídas as vitórias dos Portugueses de Salvador contra os húngaros e franceses. Santo Antônio era o Santo padroeiro do exército da Corte de Portugal.
2) Sincretismo com Xangô: Difícil precisar a origem deste sincretismo. Se partirmos para o regionalismo, Santo Antônio é Xangô nas tradições de Pernambuco. Alguns identificam assim, também pelo fato da Imagem de Santo Antônio portar um livro, tal qual São Jerônimo.
Em alguns locais ele é sincretizado com uma qualidade específica de Xangô: Xangô Abomi, que atua no equilíbrio de raciocínio e na defesa nas horas de aflição.
Seguindo a história do Santo, podemos destacar uma lenda que nos fornece uma grande pista para desvendar o sincretismo: um dos milagres de Santo Antônio foi que ele, em meio a uma missa, entrou em transe e foi visto na mesma hora em outro local, num tribunal onde seu pai era julgado por um assassinato que não cometera. Este fenômeno atribuído á Santo Antônio chama-se bilocação. Neste julgamento, Santo Antônio conduziu o juri até o cemitério e fez o próprio morto falar, inocentando seu pai da forca. Sim, nesta "lenda" se deu origem a expressão tirar o pai da forca.
Deste milagre, podemos extrair que, de forma "sobrenatural", Santo Antônio foi capaz de livrar um inocente de uma injustiça. Tal qual Xangô o Orixá da justiça.
Mas este milagre não rendeu apenas este título à Santo Antônio, vejamos mais adiante o sincretismo com os Exus.
3) Sincretismo com os Exus ou Povo de Rua: A origem deste sincretismo é diversa. No Batuque do RS sabe-se que Santo Antônio é sincretizado com Bará, orixá análogo ao Exu iorubano.
Porém, outras origens podem ser identificadas neste caso específico. O mesmo milagre usado para identificar Santo Antônio com a justiça, tornou o Santo popular como grande feiticeiro, detendo poderes sobre a carne e sobre a morte.
Lembrando que na umbanda, são os Exus os responsáveis pelo trabalho mais pesado de defesa espiritual, na lida com os "espíritos ruins" e na resolução de questões imediatas. Existem aspectos culturais, também, que cercam a crendisse popular em Santo Antônio: Santo mensageiro, o Santo que cobra as promessas, o grande protetor contra os inimigos da alma! Todas estas características são, também, atribuídas aos Exus.
De forma vaga, podemos dizer que é esta a lenda liga Santo Antônio com a linha das almas, linha que abrange, também, os Exus, em função de seu trabalho magístico.
Bom, estão aí alguns esclarecimentos sobre o sincretismo com Santo Antônio. Para saber mais, indico dois Sites que podem ser úteis:
De acordo com o que tenho aprendido, são 3 sincretismos que ligam Santo Antônio à Umbanda:
1) Na Bahia, Santo Antônio relacionado ao Orixá Ogum
2) Santo Antônio também é ligado à uma das qualidades de Xangô, Xangô Abomi.
3) Finalmente, temos fortes ligações entre Santo Antônio e os Exus, sendo muitas vezes considerado o Patrono do chamado "povo de rua".
Dedico esta postagem ao meu sincretismo pessoal, que liga Santo Antônio com um "danado" de um preto velho que me guia, me cuida, me ensina e que se tornou um grande amigo. Com ele aprendi que Santo Antônio tem ligação com a chamada "Linha das Almas" na Umbanda, linha sobre a qual, algum dia, me sentirei apta a falar.
Mas para o propósito desta postagem, basta que eu fale resumidamente (se for possível) sobre cada um dos sincretismos listados acima:
1) sincretismo com Ogum: Este sincretismo data da época da colonização. Como o Brasil foi colonizado mais ou menos na mesma época das cruzadas, grande parte dos Santos católicos que aqui chegaram eram guerreiros: São jorge, São Sebastão, entre eles estava Santo Antônio, conhecido como Santo Antônio militar. A ele foram atribuídas as vitórias dos Portugueses de Salvador contra os húngaros e franceses. Santo Antônio era o Santo padroeiro do exército da Corte de Portugal.
2) Sincretismo com Xangô: Difícil precisar a origem deste sincretismo. Se partirmos para o regionalismo, Santo Antônio é Xangô nas tradições de Pernambuco. Alguns identificam assim, também pelo fato da Imagem de Santo Antônio portar um livro, tal qual São Jerônimo.
Em alguns locais ele é sincretizado com uma qualidade específica de Xangô: Xangô Abomi, que atua no equilíbrio de raciocínio e na defesa nas horas de aflição.
Seguindo a história do Santo, podemos destacar uma lenda que nos fornece uma grande pista para desvendar o sincretismo: um dos milagres de Santo Antônio foi que ele, em meio a uma missa, entrou em transe e foi visto na mesma hora em outro local, num tribunal onde seu pai era julgado por um assassinato que não cometera. Este fenômeno atribuído á Santo Antônio chama-se bilocação. Neste julgamento, Santo Antônio conduziu o juri até o cemitério e fez o próprio morto falar, inocentando seu pai da forca. Sim, nesta "lenda" se deu origem a expressão tirar o pai da forca.
Deste milagre, podemos extrair que, de forma "sobrenatural", Santo Antônio foi capaz de livrar um inocente de uma injustiça. Tal qual Xangô o Orixá da justiça.
Mas este milagre não rendeu apenas este título à Santo Antônio, vejamos mais adiante o sincretismo com os Exus.
3) Sincretismo com os Exus ou Povo de Rua: A origem deste sincretismo é diversa. No Batuque do RS sabe-se que Santo Antônio é sincretizado com Bará, orixá análogo ao Exu iorubano.
Porém, outras origens podem ser identificadas neste caso específico. O mesmo milagre usado para identificar Santo Antônio com a justiça, tornou o Santo popular como grande feiticeiro, detendo poderes sobre a carne e sobre a morte.
Lembrando que na umbanda, são os Exus os responsáveis pelo trabalho mais pesado de defesa espiritual, na lida com os "espíritos ruins" e na resolução de questões imediatas. Existem aspectos culturais, também, que cercam a crendisse popular em Santo Antônio: Santo mensageiro, o Santo que cobra as promessas, o grande protetor contra os inimigos da alma! Todas estas características são, também, atribuídas aos Exus.
De forma vaga, podemos dizer que é esta a lenda liga Santo Antônio com a linha das almas, linha que abrange, também, os Exus, em função de seu trabalho magístico.
Bom, estão aí alguns esclarecimentos sobre o sincretismo com Santo Antônio. Para saber mais, indico dois Sites que podem ser úteis:
Notas sobre comportamentos
Uma das coisas mais questionadas na umbanda é a ausência de uma doutrina.
Mas a grande questão é: de qual doutrina falamos? Qual a doutrina de que necessitamos?
Existem várias formas de se compreender o termo doutrina: 1) um corpo teórico, onde as diretrizes gerais de uma religião estão instituídas. Exemplos claros são o catolicismo (Novo Testamento), Judaísmo (Torah), hinduísmo (Vedantas), Budismo (os Sutras), Islamismo (Alcorão).
Neste sentido as religiões afro, de origem afro, ou com inspirações afro (como creio ser o caso da umbanda) não a possuem. Devido à origem tribal, e até alguns fatores históricos determinantes, todo conhecimento de "doutrina" é passado oralmente.
Explicando a frase antecedente: 1) origem tribal - pois os antepassados africanos passavam toda a sua cultura (não apenas religiosa, mas normativa em geral) oralmente; 2) fatores históricos - até a década de 50 a prática de religiões "afro" era terminantemente proibida. Seus membros, praticantes, eram presos e toques de atabaque, nem pensar. Por essa razão. devia-se ter cuidado para quem passar os "segredos", as "mirongas" e até mesmo com quem entrava e saia dos terreiros que, em sua grande parte, funcionavam de forma clandestina. Os centros "legais" recebiam o título de "espírita" para poderem funcionar, como até hoje pode ser visto em centros mais antigos. Confiar na pessoa errada era arriscado e podia gerar o fechamento do centro. Assim, a censura externa, acabou interiorizada na prática e na transmissão das informações; 3) "doutrina", entre aspas, por ser exatamente o que estamos questionando nesta postagem. Mas entendamos aqui, provisoriamente, doutrina como o conjundo de normas praticadas pelo religioso.
Enfim, falta na umbanda um corpo doutrinário uno, como há em outras religiões.
Outro sentido para o termo "doutrina", mais comum atualmente, é o de aprendizado, crescimento ou "evolução". Este sentido tem sua origem no Espiritismo, fundamentalmente, onde a doutrina não é apenas normativa, mas moral. Ou seja, trata-se da internalização de certos comportamentos para benefício próprio do médiun, ou do seguidor do espiritismo, que visam, não apenas a sua atuação dentro do grupo religioso, mas também na sua vida cotidiana.
Com isso, todo aquele que entra em um grupo espírita, tem, como primeira fase da sua inserção na religiosidade o aprendizado teórico e ideológico da moral necessária para a prática espirita.
O mesmo ocorre com os guias espirituais: para serem considerados "guias de luz" algumas regras devem ser atendidas, segundo a letra kardequiana.
Este sentido de "doutrina", também não existe na umbanda originariamente. Como religião tribal, toda a moral é aprendida na prática, a partir dos erros cometidos pelo praticante. É normal ouvir a expressão "levar pemba" a cada vez que é aplicado um corretivo. Corretivo este que é individual e geralmente aplicado pelo prórpio corpo espiritual, sem intervenção humana.
O que podemos concluir desta primeira explanação: a umbanda tem caráter subjetivo, pois envolve mais a interpretação individual que a coletiva. Tanto em relação à compreensão de seus preceitos (doutrina no primeiro sentido), quanto em relação ao comportamento moral do praticante (doutrina no segundo sentido). É este subjetivismo que vemos frequentemente criticado nos tempos atuais.
Como uma espécie de paliativo, alguns centros de umbanda mais novos, vem adotando a forma dos espíritas e fornecendo a seus praticantes palestras e ensinamentos de cunho moral, necessários para a prática cotidiana do terreiro. Subjaz a esta medida, uma concepção "nova" da umbanda, como vertente espiritualista. Os mais conservadores, os "tribalistas", que se maravilham com este aspecto "pitoresco" dos santos que dançam e riem como os humanos, julgam tal medida como um "embranquecimento" da umbanda, de tradição afro, mas que já não é mais o candomblé, que, por sua vez, também já não é mais a prática da "mãe África".
Sim, há ironia em minhas palavras. Pois se toda defesa "tribalista" tivesse um real cunho antropológico, seria mais fácil lidar com ela. Mas em alguns terreiros, para não dizer a maioria, a antropologia passa longe! Verger é um nome conhecido apenas de documentário, que pouco tem a ver com as práticas cotidiana. "Ele era amigo de Jorge Amado, não é?" Daí pra cair no papel de mera literatura de ficção, é um pulo, um pulinho, na verdade uma topada!
E no meio desta briga toda, "a doutrina" fica praticamente esquecida. Tanto em um sentido quanto em outro. Vira, na verdade, moeda de barganha para disputas sobre "a melhor prática". Assim, os "sentidos" da doutrina acabam esquecidos, bem como são esquecidos seus objetivos, junto com os objetivos da prática espiritual....
Com ou sem doutrinas, fato é que certos comportamentos devem ser revistos dentro da prática da umbanda. A umbanda precisa perder seus traumas históricos e se permitir uma nova prática livre das censuras. Da mesma forma como um dia se fez necessário esconder os atabaques, faz-se necessário colocá-los á mostra. Não mais esconder-se no "véu da ignorância" cultural, mas resgatar o que está sob o simbólico, mas diante dos olhos da grande parte dos praticantes. Tirar do esquecimento os grandes ensinamentos. Não mantê-los no subjetivismo, mas torná-los públicos.
É necessário que o praticante de umbanda reaprenda a ouvir, e não a reagir. Ouvir àqueles que lhes guiam, suas entidades e santos. Necessário se faz aprender a sentir, mais que vigiar. Reconhecer o outro como irmão, não como oponente. O outro, digo, não os de fora da religião ou de certo grupo, mas aqueles que estão ao nosso lado. É necessário relembrar que cada um traz consigo um livro repleto de histórias e de conhecimentos que não podem e nem devem ser menosprezados. Só assim, a umbanda poderá se tornar uma só corrente, onde todos tenham seu papel.
Mas a grande questão é: de qual doutrina falamos? Qual a doutrina de que necessitamos?
Existem várias formas de se compreender o termo doutrina: 1) um corpo teórico, onde as diretrizes gerais de uma religião estão instituídas. Exemplos claros são o catolicismo (Novo Testamento), Judaísmo (Torah), hinduísmo (Vedantas), Budismo (os Sutras), Islamismo (Alcorão).
Neste sentido as religiões afro, de origem afro, ou com inspirações afro (como creio ser o caso da umbanda) não a possuem. Devido à origem tribal, e até alguns fatores históricos determinantes, todo conhecimento de "doutrina" é passado oralmente.
Explicando a frase antecedente: 1) origem tribal - pois os antepassados africanos passavam toda a sua cultura (não apenas religiosa, mas normativa em geral) oralmente; 2) fatores históricos - até a década de 50 a prática de religiões "afro" era terminantemente proibida. Seus membros, praticantes, eram presos e toques de atabaque, nem pensar. Por essa razão. devia-se ter cuidado para quem passar os "segredos", as "mirongas" e até mesmo com quem entrava e saia dos terreiros que, em sua grande parte, funcionavam de forma clandestina. Os centros "legais" recebiam o título de "espírita" para poderem funcionar, como até hoje pode ser visto em centros mais antigos. Confiar na pessoa errada era arriscado e podia gerar o fechamento do centro. Assim, a censura externa, acabou interiorizada na prática e na transmissão das informações; 3) "doutrina", entre aspas, por ser exatamente o que estamos questionando nesta postagem. Mas entendamos aqui, provisoriamente, doutrina como o conjundo de normas praticadas pelo religioso.
Enfim, falta na umbanda um corpo doutrinário uno, como há em outras religiões.
Outro sentido para o termo "doutrina", mais comum atualmente, é o de aprendizado, crescimento ou "evolução". Este sentido tem sua origem no Espiritismo, fundamentalmente, onde a doutrina não é apenas normativa, mas moral. Ou seja, trata-se da internalização de certos comportamentos para benefício próprio do médiun, ou do seguidor do espiritismo, que visam, não apenas a sua atuação dentro do grupo religioso, mas também na sua vida cotidiana.
Com isso, todo aquele que entra em um grupo espírita, tem, como primeira fase da sua inserção na religiosidade o aprendizado teórico e ideológico da moral necessária para a prática espirita.
O mesmo ocorre com os guias espirituais: para serem considerados "guias de luz" algumas regras devem ser atendidas, segundo a letra kardequiana.
Este sentido de "doutrina", também não existe na umbanda originariamente. Como religião tribal, toda a moral é aprendida na prática, a partir dos erros cometidos pelo praticante. É normal ouvir a expressão "levar pemba" a cada vez que é aplicado um corretivo. Corretivo este que é individual e geralmente aplicado pelo prórpio corpo espiritual, sem intervenção humana.
O que podemos concluir desta primeira explanação: a umbanda tem caráter subjetivo, pois envolve mais a interpretação individual que a coletiva. Tanto em relação à compreensão de seus preceitos (doutrina no primeiro sentido), quanto em relação ao comportamento moral do praticante (doutrina no segundo sentido). É este subjetivismo que vemos frequentemente criticado nos tempos atuais.
Como uma espécie de paliativo, alguns centros de umbanda mais novos, vem adotando a forma dos espíritas e fornecendo a seus praticantes palestras e ensinamentos de cunho moral, necessários para a prática cotidiana do terreiro. Subjaz a esta medida, uma concepção "nova" da umbanda, como vertente espiritualista. Os mais conservadores, os "tribalistas", que se maravilham com este aspecto "pitoresco" dos santos que dançam e riem como os humanos, julgam tal medida como um "embranquecimento" da umbanda, de tradição afro, mas que já não é mais o candomblé, que, por sua vez, também já não é mais a prática da "mãe África".
Sim, há ironia em minhas palavras. Pois se toda defesa "tribalista" tivesse um real cunho antropológico, seria mais fácil lidar com ela. Mas em alguns terreiros, para não dizer a maioria, a antropologia passa longe! Verger é um nome conhecido apenas de documentário, que pouco tem a ver com as práticas cotidiana. "Ele era amigo de Jorge Amado, não é?" Daí pra cair no papel de mera literatura de ficção, é um pulo, um pulinho, na verdade uma topada!
E no meio desta briga toda, "a doutrina" fica praticamente esquecida. Tanto em um sentido quanto em outro. Vira, na verdade, moeda de barganha para disputas sobre "a melhor prática". Assim, os "sentidos" da doutrina acabam esquecidos, bem como são esquecidos seus objetivos, junto com os objetivos da prática espiritual....
Com ou sem doutrinas, fato é que certos comportamentos devem ser revistos dentro da prática da umbanda. A umbanda precisa perder seus traumas históricos e se permitir uma nova prática livre das censuras. Da mesma forma como um dia se fez necessário esconder os atabaques, faz-se necessário colocá-los á mostra. Não mais esconder-se no "véu da ignorância" cultural, mas resgatar o que está sob o simbólico, mas diante dos olhos da grande parte dos praticantes. Tirar do esquecimento os grandes ensinamentos. Não mantê-los no subjetivismo, mas torná-los públicos.
É necessário que o praticante de umbanda reaprenda a ouvir, e não a reagir. Ouvir àqueles que lhes guiam, suas entidades e santos. Necessário se faz aprender a sentir, mais que vigiar. Reconhecer o outro como irmão, não como oponente. O outro, digo, não os de fora da religião ou de certo grupo, mas aqueles que estão ao nosso lado. É necessário relembrar que cada um traz consigo um livro repleto de histórias e de conhecimentos que não podem e nem devem ser menosprezados. Só assim, a umbanda poderá se tornar uma só corrente, onde todos tenham seu papel.
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