28 de jan. de 2015

Tenda dos Milagres

Não sou grande fã de Jorge Amado, mas devo reconhecer que ele foi peça importante para a divulgação, aceitação e melhor integração da cultura negra na Bahia. No livro que já mencionei aqui várias vezes, Vovô Nago e  Papai Branco, é mencionada a forte participação de intelectuais, não apenas antropólogos, na consolidação das religiões afro como patrimônio cultural. Jorge Amado é certamente um desses intelectuais.

Tenda dos Milagres, publicado em 1969, não retrata apenas a questão negra e mestiça, mas vai além. Retrata toda a luta que houve entre diferentes intelectuais, junto à instituições públicas, entre si, no período onde grande parte dos textos clássicos de antropologia sobre cultura negra estavam sendo escritos. Destaca-se, particularmente o debate entre o intelectual negro, Pedro Arcanjo (Manoel Querino na vida real) e o famoso antropólogo branco Nilo Argolo (Nina Rodrigues), que defendia teses que colocavam o negro e sua cultura em um patamar inferior ao dos Brancos. Até hoje os textos de Nina Rodrigues são criticados em textos antropológicos e, apesar de etnocêntricos, são leitura obrigatória para quem pretende se inteirar de todo o debate racial existente no Brasil. A discussão entre os dois personagens, Pedro Arcanjo e Nilo Argolo, dá um "ar" intelectualizado ao livro e o torna interessante do ponto de vista antropológico, também. Pois sabemos que na literatura podem ser resgatadas várias formas de pensamento de época, além de retratar o impacto que certos debates - no caso os debates raciais que envolvem também as religiões de matriz africana - tiveram.



Como não sou fã de Jorge Amado, ainda não li o livro (sim, faço aqui um "mea culpa"), muito embora ele esteja aqui separadinho para que eu leia assim que eu terminar de ler vários outros livros que estou lendo no momento. Logo a razão dessa postagem não é o livro, mas um filme produzido por Nelson pereira dos Santos, em 1977, sobre o livro. O filme é ótimo e apesar de ser longo, prende bem a atenção de quem se interessa pelo debate.

Segue o link:





Caso alguém queira ler o livro, clique na imagem abaixo para baixar a versão em PDF:


Até a próxima!

Pai Antonio

Uma das bênçãos que a internet e a tecnologia nos proporciona é encontrar pérolas como esse vídeo com o áudio de uma fala do Pai Antônio incorporado no Zélio de Moraes.

Mesmo que eu diversas vezes questione a Zélio como "criador" da umbanda, é incontestável a importância dele e de seus guias para a formação da religião como temos hoje em dia. Sem dúvida esse é um áudio que vale à pena ser ouvido! Eu fiquei muito feliz quando me mostraramm, pois tenho enorme devoção pela falange de Pai Antônio. Na verdade, tenho devoção por todos os pretos velhos, mas a falange de Pai Antônio é algo especial para mim.

Segue a relíquia:




Até a próxima!



Malês e Kimbandas - II

Achei recentemente um artigo que aborda muito bem a influência muçulmana nas religiões afro-brasileiras. Segue o link:

https://sites.google.com/site/caboclopanteranegra/textos-doutrinarios-e-informativos/a-influencia-do-mundo-muculmano-no-candomble-e-na-umbanda


Um trecho de uma citação do artigo me chamou a atenção em particular, repasso aqui:


"Filho de Muhammad Salim e Fátima Faustina Mina Brasil, negros vindos da Costa da África, Assumano, “uma figurante impressionante de preto”- nas palavras do compositor e escritor Almirante – morava na rua Visconde de Itaúna, dizia trabalhar no comércio e dar consultas em sua residência, inclusive para pessoas conhecidas na sociedade carioca da época, como é o caso do jornalista e escritor Medeiros e Albuquerque.


Em 25 de outubro de 1927 , então com 47 anos, foi preso em flagrante, quando 'dava consulta' a Nair dos Santos, sendo levado para a Repartição Central da Polícia do Rio de Janeiro. Os investigadores policiais apreenderam alguns objetos em sua casa, entre os quais, um par de chifres de carneiro, três caramujos grandes, um pedaço de pele de cabra e fios de cabelo. Além disso, também foram encontradas receitas em caracteres arábicos, conforme depoimento do investigador Ruy Vasconcellos. Na conclusão do processo que se instaurou contra Assumano, consta que ele foi processado como incurso no artigo 157 do Código Penal de 1890, sob acusação de falso espiritismo e cartomancia. Mas os peritos concluíram que os objetos apreendidos não seguiam “as modalidades mais usuais na prática das ‘macumbas’ ou da ‘Magia Negra’”; sua especialidade era apenas “a prática de preces quasi sempre em linguagem africana, preocupando-se mais com a prática da caridade”. O processo foi arquivado em 28 de janeiro de 1928."


Em: Cultura, identidade e religião afro-brasileiras na cidade do Rio de Janeiro -1870-1930: cenários e personagens, Juliana Barreto Farias (grifo meu).


Fiquei me questionando se nessa época ele já conhecia, ou já tinha ouvido falar da Umbanda... Talvez seja um livro que valha à pena conferir.