30 de set. de 2011

"Orun Ayê" de José Beniste


Recentemente comprei este livro por já ter lidos bons comentários a respeito. É minha atual leitura e, de fato, é uma ótima leitura para quem pretende conhecer melhor a parte da "filosofia ritual" do candomblé e dos Yorubás.




O livro explica cuidadosamente desde a cosmogonia yorubá, passando pelo jogo de ifá, a importãncia dos mitos de Ifá na determinação de uma ética e uma moral válidas, não apenas para o ritual, mas também para a vida. A importância do ori na vida de uma pessoa. Qual a relação que os orixás estabelecem com o Ori e as pessoas. O culto aos ancestrais entre outras coisas.

Creio ser uma boa indicação para quem deseja iniciar seus estudos na cultura afro.

Link para download:

ORUN AYÊ




28 de set. de 2011

Documentário Santo Forte

Segue um documentário muito interessante que mostra as relações entre protestantismo, catolicismo e religiões afro-brasileiras dentro de uma comunidade.

Trailer:



Link para baixar: http://eduardocoutinho.blogspot.com/2007/09/santo-forte.html

27 de set. de 2011

Ibejí ou Erê?

A idéia inicial dessa postagem tem uma história peculiar. No terreiro de umbanda omolocô, ouvi de uma entidade "criança" que esta não poderia ser denominada Erê, mas sim Ibeijada. Fiquei bastante curiosa do porque da distinção e, até mesmo, certa irritação da criança em ser referida como Erê. A explicação veio da seguinte forma: Erê é do orixá e encantado como o Orixá, Ibeijada é falange de espíritos que já viveram na terra e, espiritualmente, continuam sua missão como crianças.

Tirando o caráter de certo modo espírita para a explicação sobre a distinção, fiquei curiosa sobre o tema e resolvi dar uma pesquisada para saber se já haviam escrito a respeito disso.
Claro que a diferença existe e aparece em uma busca rasteira pelo Google. Erê é um estado de transe que ocorre no candomblé, principalmente no período de iniciação, onde o iniciado entra em contato com as energias mais puras do seu axé. Por isso o simbolismo com as crianças, por representarem a pureza e a sinceridade. Sinceridade esta, que nem sempre aparece em sua forma positiva: os Erês podem ser bem rebeldes, como as crianças são. Desafiadores, alguns necessitam ser "ensinados", ou, como ouvi recentemente, "domesticados". A parte que se refere a "encantados" pude entender pelo pouco que vi explicado no livro AWÔ, da Babalorixá Gisèle Cossard. Em alguns rituais, o iniciado em estado de Erê é capaz de "proezas" pouco imagináveis, como, por exemplo, passar uma noite na Mata e retornar pela manhã de posse de uma cobra. Essa forma de ritual, explica a Babalorixá, foi abandonada devido ao crescimento dos centros urbanos.

Essa forma de compreender os Erês é bem diversa daquela da umbanda, onde o "Erê" significa tão somente "Ibeijada", crianças vindas na falange de São Cosme e São Damião (que por serem gêmeos e trabalharem com crianças durante suas vidas foram sincretizados com os Deuses Gêmeos da Nigéria - Os Ibeji). Se hoje existe nos terreiros de umbanda as falanges das crianças, como conhecemos, se fazemos suas festas com doces idênticos aos distribuídos nos dias de São Cosme e São Damião, isso se deve muito mais ao sincretismo e o simbolismo que as crianças possuem no imaginário popular (ditado: quem agrada uma criança, agrada à Deus) que por uma herança propriamente africana, que represente os Ibejís africanos de forma adequada.

Claro que esta pesquisa está longe de ter um resultado definitivo, o que exponho aqui é apenas uma concepção preliminar, pois falta-me ainda estudos a respeito dos Ibejis como Orixás. Aliás, coisa que não é apenas uma particularidade minha, mas geral. Há uma escassez de trabalhos que abordem os Ibejis, Erês e seus sincretismos, como tema antropológico, ou mesmo histórico. Em minhas pesquisas achei Uma dissertação de mestrado da UFBA, que tem um capítulo sobre as ambiguidades dessa relação.


E me despeço saudando São Cosme e São Damião, toda a Ibeijada, os Erês, as Crianças e principalmente à criança que inspirou essa postagem. No final das contas o que importa é a alegria e doçura que essa falange é capaz de trazer aos seus fiéis.
Salve a Ibeijada!



25 de set. de 2011

Começando os festejos para Ibeijada

Observações Sobre o Livro "Vovô Nagô e Papai Branco" de Beatriz Góes Dantas.

Tem tempos que o blog não é atualizado, mas hoje resolvi trazer uma resenha que há tempos venho programando (já que o tempo está chuvoso e não pude fazer a trilha que desejava...rsrsrs)

No ano de 2011 uma das boas leituras que fiz e que me deu elementos interessantes para repensar a Religião UMBANDA foi o livro "Vovô Nagô e Papai Branco" de Beatriz Góez Dantas, leitura praticamente obrigatória para quem deseja aprofundar os estudos sobre a História das Religiões Africanas no Brasil.

O Livro trata, em especial, de um terreiro "Nagô Puro" do Recife, da cidade de Laranjeiras. Mas não trata APENAS de uma leitura etnográfica sobre este terreiro. Destaco como Partes interessantes do Livro o capítulo 3, onde a autora compara a narrativa da Mãe de Santo com elementos históricos sobre o trato com os escravos pós abolição. Grande parte dos escravos alforriados, principalmente os que trabalhavam nas casas grandes, se mantiveram em seus trabalhos em troca de benefícios, tais como: escola para os filhos, garantia de médicos e outras regalias que dificilmente seriam mantidas caso decidissem sair dos cuidados de seus antigos senhores, dada as condições precárias que os negros enfrentavam pós abolição em uma sociedade racista. Estes elementos destacados no capítulo se tornaram material de aula para mim. Toda vez que abordo a questão do trabalho com meus alunos de EJA, e das condições de trabalho, trabalho alienado, etc., menciono a política de benefícios destacando que esta prática existe desde aquela época. É uma forma deles pensarem o que está por trás dessa política, e ver que a ideologia paternalista não é a ideal, já que data de uma época pouco amistosa para os negros libertos. Como grande parte dos meus alunos são negros, a aula acaba tendo uma ótima recepção.

Outro ponto que destaco do livro é o capítulo 4 que trata da "Construção e significado da pureza Nagô". Este capítulo traz, como elemento interessante, a origem daquilo que foi classificado como PURO nas religiões afro. Inicialmente esta designação partiu dos chefes de casa que estavam dispostos a, junto com intelectuais e antropólogos (Gilberto Freyre, Artur Ramos), a revitalizar a cultura negra, coisa que nem todos os terreiros e barracões estavam dispostos, pela desconfiança natural que se tinha dos "de fora" em uma época de perseguições violentas à religião. Posteriormente, quando essa "moda de revitalização" chegou à Bahia (com Verger e Jorge Amado, junto a outros antropólogos) a noção de pureza foi ressignificada, passando a se referir aos terreiros que continham mais traços comum com os remanescentes cultos africanos (remanescentes, pois hoje em dia a África é quase toda protestante e católica e o culto primitivo aos Orixás é fortemente combatido como prática de feitiçaria). Enfim, por um lado a pureza significava valores regionais típicos, por outro a pureza significava a proximidade do culto com a Mãe África. Mas é interessante destacar que, tanto de um lado como de outro, era consensual que a prática do culto visando o mal, ou fazer mal a outrém era, era desprezada.
Desde o princípio está envolvido no conceito de "pureza" a prática do culto com o objetivo de trazer força e prosperidade aos filhos de santo. A cura de males que possam ser causados por "Orixás insatisfeitos". A ideia mais comum é que cuidando do santo se garante uma vida feliz e próspera ao filho de santo.

Onde entra a umbanda nessa história? Entra como uma variante impura dos cultos afros. Na classificação da autora, que segue o modelo do culto Nagô do Recife, a umbanda é tão degenerada quanto eram os cultos Malês e o Toré. Os Malês sumiram por praticarem o mal, o Toré é misturado e impuro por trabalhar com caboclos e praticar curandeirismo e magia, a umbanda é impura porque reúne elementos dos ritos anteriores e ainda cobra dinheiro pelos serviços prestados. Assim, o nome umbanda, carrega neste contexto, tudo o que há de ruim e que venha denegrir a imagem das religiões africanas "puras".

O interessante notar, neste contexto, é que a umbanda historicamente sempre foi colocada à margem. À margem do próprio africanismo, que hoje alguns terreiros se esforçam em recuperar, e à margem do espiritismo, escola da qual, alguns afirmam, a umbanda é filha (cujos problemas já levantei em postagens anteriores). O trabalho da Beatriz traz questões interessantes a ser pensada: será possível, de fato, um "resgate africanista" na umbanda como propõem alguns autores? Recentemente me deparei com um livro, uma coletânea de um congresso sobre religiões afro-brasileiras, onde há um capítulo dedicado ao resgate africano dentro da umbanda. Será mesmo possível? Pensar numa definição para a umbanda dentro do contexto histórico de religiões brasileiras já catalogadas é difícil, já que sua definição parece sempre depender do ponto de vista do referencial. Cabe perguntar qual a forma mais correta, e menos estranha, pela qual o umbandista pode definir legitimamente a sua religião.

Quem quiser ter acesso ao texto da Beatriz, está disponível no banco de teses e dissertações da UNICAMP. Basta fazer a inscrição para poder baixar o texto no seguinte link: